Não há derrota na Copa do Mundo que se compare à vergonha alheia de presenciar um tumulto do tamanho do que o Brasil viveu no último domingo, 7. É fora de campo que a nação mais perde quando os órgãos mais superiores comentem equívocos que desequilibram ainda mais uma já tão fragilizada credibilidade brasileira.
Após mais de nove horas de um vaivém de decisões conflituosas, o presidente do Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região, Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, manteve a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estava com um pé dentro da cela e o outro fora. O pedido de habeas corpus impetrado pelos deputados federais Paulo Teixeira (PT-SP), Wadih Damous (PT-RJ) e Paulo Pimenta (PT-RS) foi acatado pelo desembargador Rogério Favreto, que acabava de assumir o plantão no TRF4, com alegação de "fato novo" atribuído à pré-candidatura de Lula à Presidência da República.
Impedindo a decisão, entraram em cena o juiz Sérgio Moro e o relator da Lava Jato em segunda instância, João Pedro Gebran Neto, que contrariando Favreto, suspenderam a decisão que determinou a liberdade provisória do ex-presidente, e foram contrariados por Favreto, que reiterou a decisão anterior, por duas vezes, até Thompson intervir na polêmica.
Foram tantas controversas em disputa e diversas interpretações que, para não magistrados, fica difícil entender o que poderia e o que não poderia ter sido feito, e como uma confusão dessa foi possível.
Em meio ao conflito de autoridade, a Polícia Federal, com o alvará de soltura em mãos, não sabia como agir, e o Brasil e o mundo presenciaram o que muitos chamaram de "caos jurídico". A imprensa internacional repercutiu o caso usando termos como "queda de braço" e "teatro político". O episódio foi ruim para o judiciário e prejudica o país como um todo, gerando insegurança jurídica e mais instabilidade.
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) abriu procedimento para apurar a conduta dos desembargadores Favreto e Gebran Neto e do juiz federal Sérgio Moro. Lula segue preso. E o Brasil absorve mais uma derrota - não aquela contra a Bélgica, mas contra o senso de justiça, já abalado em tantos setores da sociedade.
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