Entramos no mês em que a Lei Maria da Penha completa 12 anos com uma série assustadora de casos recentes de feminicídios no Brasil. Enquanto a legislação se aperfeiçoa na busca por sanções mais rígidas a violência contra mulheres, na expectativa de reduzir esses índices tão preocupantes, é espantoso perceber que, na cabeça dos agressores, ainda é tão difícil quebrar esse absurdo senso de dominação e violência.

No dia 22 de julho, Tatiane Spitzner morreu após cair do prédio onde morava, em Guarapuava. O marido, Luiz Felipe Manvailer está preso suspeito pelo crime, e imagens obtidas pelas câmeras de segurança do edifício mostram uma sequência de agressões cometidas por Manvailer contra a esposa, momentos antes da morte.

No último domingo, 5, Andreia Campos Araújo foi encontrada morta dentro de um carro em Jaraguá do Sul. O marido, Marcelo Kroin, confessou a autoria do homicídio e chegou a tentar fugir com o corpo da vítima, dirigindo até Canoinhas, porém retornando à cidade onde vive.

Na terça-feira, 7, Adriana Castro Rosa Santos foi assassinada em Brasília pelo marido, o policial militar Epaminondas Silva Santos, que, em seguida, tirou a própria vida. Foi o terceiro feminicídio registrado no Distrito Federal em menos de uma semana. Desde o início do ano, já foram 19.

Temos uma das leis consideradas mais eficazes contra a violência da mulher, mas apesar dela, mulheres continuam tendo suas vozes caladas vítimas da covardia. Onde está a dificuldade em romper esse ciclo de violência? São muitas questões.

Uma delas está impregnada em uma sociedade que ainda relativiza feminicídios, muitas vezes responsabilizando a mulher pela violência sofrida, muitas vezes privando-a do suporte mínimo, e outras tantas reduzindo um assassinato a uma manifestação de machismo em sua forma mais banal - aquele machismo que dizem ser intrínseco a todos os homens. Tanto pior, comparar outros homens com indivíduos que são, a bem verdade, criminosos.

Quebrar as barreiras da desigualdade de gêneros e do patriarcalismo ainda é um desafio em pleno século 21. E além do machismo velado do dia a dia, outro perigoso adversário é a misoginia escancarada, que mata todos os dias.

Não podemos aceitar essa brutalidade calados e isentar a culpa atribuindo a uma cultura machista que está impregnada em nossa sociedade. Nós somos a sociedade. Ela se molda pelas nossas atitudes e somos nós que podemos mudá-la.