Por Reginaldo Antonio Marques dos Santos
O que se quer na política brasileira é o poder. Soberania nacional? Reconhecimento (respeito) internacional? Existem outras prioridades no momento. E, estão ligadas a meios que permitam legitimidade e poder. Mesmo que para se chegar a estes sejam necessários atos de violência, a retirada total ou parcial de direitos, ou ainda legitimar uma crise em nome da manutenção da segurança. Mas, de qual segurança? A segurança que dá sentido à vida. Para o filósofo italiano Giorgio Agamben (2004, p.11) "o soberano é aquele que decide sobre o estado de exceção". A segurança econômica está em jogo. No momento em que a vida é governada pelo poder soberano do Estado e o que se deseja democraticamente é mais Estado.
A ação política do Estado sobre as vidas, ou superior a estas, é o que Agamben chama de "Biopolítica". Desaparece a sociedade e prevalece a espécie humana. O Estado interfere diretamente na vida biológica das pessoas. E uma das questões centrais desta discussão é: o que fazer frente a um estado de exceção que se firma a partir de um regime democrático, no momento em que muitos brasileiros realizam um único esforço, - caçar pokemons? Onde um Senador da República quer implantar uma doutrinação nas escolas colocando-se exatamente contrário à doutrinação? Ora, temos ou não a capacidade de avaliar por conta própria o que nos é dito? Neste momento, nem todos carecem de auto-ajuda Excelentíssimo Senador. Ou, a regra é: não existem mais regras?
Olhando os candidatos a prefeito e a vereadores pela região percebe-se que a cena não é das melhores para os eleitores que terão que escolher os pretendentes a uma vaga no legislativo. O município de Três Barras conta com 127 candidatos à casa legislativa, segundo o site do TSE. Constatar estes números a princípio soa positivamente se considerar que um alto número de candidatos pode representar muitas pessoas envolvidas, participando da política. Porém, assim como na escola, ter vários professores e várias disciplinas não representa qualidade, o mesmo acontece com as candidaturas. O fato dos candidatos utilizarem as redes sociais para a campanha começou de forma dramática para alguns que publicaram frases reveladoras de seu precário domínio da língua portuguesa como: "conserteza farei muito pela minha cidade", ou "venho umildemente perdi seu voto". Interessante verificar também a alegria de boa parte da população ao ver diminuir o período eleitoral. Como a estética e a ética política chegaram a esse ponto?
Seja na esfera federal, estadual ou municipal, a política é sempre uma guerra pelo poder. E as variações da vida na contemporaneidade se dão pela inversão, pelo niilismo. Pensando a partir do que Agamben concerne por Zoé, o simples viver, comparando-se a outros animais, não encontramos nossa bios - "vida qualificada, um modo particular de vida" (AGAMBEN, 2002, p.9) esta foi reduzida a um grande jogo de interesses. Uma competição que o Brasil vai muito bem. Trata-se de um amontoado de mais de 200 milhões de medalhistas - produtores e consumidores, tendo seu presidente interino com o ouro garantido.Viva a crise!
Reginaldo Antonio Marques dos Santos é presidente do Centro Acadêmico de Ciências Sociais - UNC-Mafra/SC. Membro do Grupo de Estudos em Giorgio Agamben - CNPq. Pesquisador PIVIC - A relação entre poesia, música e filosofia no pensamento de Agamben - CNPq. Professor/Líder do Grupo de Estudos em Ciências Humanas do Colégio São Mateus - SEED/PR. Professor de Sociologia - SED/SC.
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