A largada já foi dada; agora é o momento de aperfeiçoar e ampliar os projetos que vêm dando certo em Bela Vista do Toldo

Antonio Bail nunca provou a cachaça que Valdemar Iarrocheski vem produzindo na localidade de Rio Bonito, em Bela Vista do Toldo, mas esta cachaça promete mudar sua vida. Ele sabe que o produto merece credibilidade e, por isso, esta semana, decidiu investir no plantio de cana-de-açúcar em sua propriedade na localidade da Forquilha, em Canoinhas.

Há pouco tempo, Antonio descobriu que, a exemplo da propriedade de Iarrocheski, pelo menos três dos 12 hectares de terras de que dispõe, estão num microclima que beneficia o plantio de cana. Neste período, Antonio fez alguns experimentos e viu que a cana se desenvolve perfeitamente em suas terras.

Nesta semana, ele conversou com Iarrocheski e firmou um acordo de venda da sua produção para o agricultor bela-vistense. ?Até agora não sabia o que fazer com a cana, mas agora que eu encontrei seu Valdemar, fiquei empolgado pra plantar mais cana?, conta Bail, afirmando ainda que pretende ocupar todos os três hectares influenciados pelo microclima, com cana.

 

EXEMPLO

 

A Cooperativa de Comercialização Solidária de Bela Vista do Toldo (Comsol) vai servir de exemplo para as cidades vizinhas. Em Canoinhas, produtores como Antonio Bail já se mobilizam para estender os projetos da cidade vizinha. Na quinta-feira, 20, os representantes do Comsol estarão em Major Vieira para repassar informações aos agricultores da cidade.

 

Objetivo é atingir 200 famílias bela-vistenses

 

Prefeito Adelmo Alberti (PSDB) está animado com o trabalho desenvolvido em Bela Vista do Toldo a partir de incentivos do Governo Federal.

Na entrevista abaixo, ele comenta os recursos investidos e o retorno que, garante, será decisivo para o encolhimento do mercado do fumo na cidade. Acompanhe:

 

 

CN: É um orgulho para Bela Vista do Toldo que os próprios agricultores tenham se interessado e ido atrás desses projetos do Governo Federal?

Desde que eu assumi, encampei esses projetos junto aos nossos agricultores, inclusive alocando a contrapartida necessária, mas nossa participação foi mais intensa a partir da iniciativa dos agricultores. No início eram seis ou sete famílias e hoje, o objetivo do projeto é atingir 200 famílias.

 

CN: Isto é um exemplo de que recursos federais existem, basta os municípios tomarem a iniciativa?

Com certeza. Este projeto hoje, está envolvendo R$ 210 mil. A princípio conseguimos R$ 86 mil, do Ministério do Desenvolvimento Agrário e a gente alocou o restante dos recursos. Está sendo aplicada uma contrapartida considerável, mas conseguimos trazer recursos federais para a cidade, o que é difícil. Foi uma briga, mas é um município pequeno que está conseguindo trazer recursos para os seus agricultores.

 

CN: Pelo menos 90% dos agricultores de Bela Vista do Toldo trabalham com fumo. Alternativas como a da cachaça, da merenda escolar e da olericultura, podem reduzir a fumicultura em Bela Vista do Toldo?

Neste sentido é que estamos trabalhando. Nós temos hoje 980 produtores de fumo em Bela Vista do Toldo. São mais de 1,2 mil estufas. É neste sentido que nós decidimos investir em alternativas. Esses projetos que você mencionou, atrelado à fruticultura e ao biodiesel a partir do girassol, são alternativas que estão sendo agregadas, prevendo que no futuro podem reduzir o plantio de fumo. A redução é natural. Primeiro que os produtores que não tiverem um plantio de pinus, não poderão plantar fumo porque não poderão cortar madeira nativa (para aquecer as estufas). O lucro do fumo está cada vez menor, além de todo o mundo combater o fumo em prevenção à saúde. Com alternativas, o agricultor não ficará desalentado quando não puder mais plantar fumo.

 

CN: Como agricultor o senhor diria que um dia viria uma produção de cana-de-açúcar em Bela Vista do Toldo?

(risos) Pé de banana até eu tinha visto, mas a cana, sinceramente, não. Hoje, inclusive, sabemos que várias outras áreas da cidade podem receber plantio de cana.

 

 

Lucro pode superar o fumo

 

Adriano Padilha, articulador da Comercialização Solidária de Bela Vista do Toldo (Comsol) é inquieto. Está sempre pensando em algo para melhorar os projetos desenvolvidos pela Comsol com apoio do Governo Federal do Sindicato da Agricultura Familiar (Sintraf). Ele é um dos personagens principais da revolução agrícola que acontece na cidade. Na entrevista abaixo, ele garante que o lucro com as novas atividades pode superar o fumo. Acompanhe:

 

CN: Agora que estes projetos estão se consolidando, o que podemos esperar do futuro?

A Comsol está tentando tirando tirar da Conab a Merenda Escolar e passar para o Governo do Estado neste momento.

 

CN: Na sua opinião, estes projetos podem diminuir o cultivo do fumo na região?

Podem sim. Nós estamos fazendo reuniões nas comunidades, nas quais nós fazemos cálculos para o produtor, mostrando como o ganho pode ser muito maior quando se cultiva outras culturas que não o fumo, de forma correta.

O pessoal tem a mentalidade de ver volume em nota e não no bolso, mas calculando, mil pés de fumo rendem pouco ao agricultor. Comparando o espaço de terra que esses mil pés de fumo ocuparão com o espaço que mil pés de verduras ocuparão, você consegue o mesmo lucro.

 

CN: O ganho pode ser maior?

Há ganho superior ao fumo. Exemplificando, um pé de fumo hoje sai abaixo de R$ 1. Já o aipim descascado está por R$ 1 a peça de dois, três quilos.

 

CN: Como você sente a repercussão entre os agricultores. Eles estão otimistas?

Estão bem otimistas. Muitos nos procuram para ver a viabilidade de outros projetos.

 

CN: E o interesse tem sido regional?

Sim, em Canoinhas o projeto já está em andamento, temos uma reunião em Major Vieira na próxima semana, sem contar outros municípios que nos procuram como Três Barras, Papanduva, Porto União e Irineópolis.