Representante da CUT na Câmara Setorial do Fumo diz que o Brasil é a bola da vez na fumicultura

Edinei Wassoaski

CANOINHAS
 
Canoinhas continua a maior produtora de fumo do Estado e isso significa que a cidade está em uma posição privilegiada no momento em que a produção mundial deu uma recuada bruta que representa uma queda de cerca de 1 milhão de toneladas da planta somente nesta safra, em relação a expectativa. É a avaliação que o assessor da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf) e representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT) na Câmara Setorial do Fumo, Albino Gewehr, faz do cenário da fumicultura para esta safra. Na entrevista a seguir, Gewehr, que esteve em Canoinhas no sábado, 14, na sede da CUT, palestrando para fumicultores, fala sobre o momento ideal para negociar a planta, mercado mundial e os efeitos da Convenção-Quadro, esforço mundial no sentido de reduzir o consumo de fumo. Acompanhe.
 
O senhor disse que os fumicultores estão produzindo menos que a indústria esperava, mas isso vem na contramão de tudo que ouvimos sobre a necessidade da redução da fumicultura. Como se explica isso?
A explicação está na forma como a fumicultura se comporta no mundo. A Europa, por exemplo, decidiu retirar todos os subsídios que dava ao fumo, eles produziam o mesmo que o Brasil. Nos últimos anos, reduziram a produção e chegaram a 15% do que nós produzimos. As 500 mil toneladas de fumo que a Europa produzia fazem falta para o resto do mundo. O consumo está estável. O percentual de fumantes no mundo diminuiu. Eram 30% da população, hoje são 18%, mas como a população mundial aumentos, estes 18% são mais pessoas que os 30% de anos atrás. Ainda tem uma estabilidade de consumo. A grande questão, no entanto, é se para frente diminuir o consumo e o Brasil continuar a produzir cada vez mais, teremos certamente um grande problema.
 
Mas o senhor disse que o momento é de produzir?
Enquanto isso for negócio. Hoje os fumicultores brasileiros estão com um grande poder de negociação, porque se plantou menos, está se colhendo menos e isso gera valorização do produto, mas não podemos nos deixar enganar com isso. Neste momento conseguimos valorizar em até R$ 8 por quilo, mas se cada um plantar cada vez mais, daqui a pouco diminui o preço.
 
O momento então é favorável para investir no fumo?
Não só no fumo. É preciso que o fumicultor tenha alternativas, porque se hoje o preço do fumo está bom, amanhã pode não estar. É preciso diversificar.
 
Já dá pra começar a vender?
A orientação é para que ele não venda neste momento. Só se for o caso de precisar fazer um caixa, mas o aconselhável é que a maioria da produção seja estocada, porque os negócios bons vão vir lá por maio ou junho. Nos últimos anos quem segurou a produção faturou até 50% a mais nos meses de maio e junho.
 
Dá pra arriscar um palpite de preço?
Ano passado a média foi R$ 5,41. Acredito que em julho chegue a R$ 8 o quilo, com média geral de R$ 7 por quilo.
 
Não te parece absurdo o fato de não haver em Canoinhas, considerando sua importância para a indústria, postos de coleta de fumo das maiores fumageiras?
As indústrias sempre acharam muito caro montar estes postos, mas na prática já estão fazendo isso, indo até as propriedades selecionar fumo, basta faltar na indústria. A Unirvesal Leaf Tabacos já está em Canoinhas, a Souza Cruz está em Rio Negro-PR e tudo indica que outras venham.
 
O Brasil é um dos signatários da Convenção-Quadro. Como fica a situação do fumicultor em relação a este movimento mundial?
Eu sou fumante, mas não quero que meus filhos fumem. Hoje não consigo parar de fumar, mas se tivesse sido orientado sobre os efeitos nocivos do cigarro anos atrás, provavelmente eu não fumaria. A Convenção-Quadro prevê justamente essa conscientização global dos malefícios do cigarro. Está funcionando. Os jovens têm fumado menos e isso indica que embora hoje a situação esteja boa, certamente para frente tende a piorar. Não podemos produzir mais que a demanda, senão ficaremos reféns da indústria. Produzindo menos, procurando alternativas, estaremos influenciando diretamente no mercado.
 
O que de prático da Convenção-Quadro vem sendo feito no Brasil?
Noventa por cento do que a Convenção prevê o Brasil já fazia como o controle da publicidade e os alertas nas carteiras de cigarro. Mas outras coisas devem ser feitas como o aumento do preço do cigarro e combater o contrabando, mas isso no âmbito geral, não somente as pessoas que trazem cigarro do Paraguai, mas também as redes de contrabando que também tem envolvimento das indústrias do fumo, porque em vários momentos elas injetaram fumo barato nas populações mais pobres para viciar. Na Europa há vários processos contra a indústria dessa natureza.