Chuva acima do normal atrapalha plantio e germinação do feijão na região
Gracieli Polak
CANOINHAS
Chuva dia sim, dia não. Essa foi a rotina do mês de outubro na região do Planalto Norte Catarinense. Mais que barro e umidade no ar, a onda chuvosa trouxe para o campo preocupação com a safra de feijão, que prometia ser a cultura mais rentável na safra de verão deste ano, mas que, mesmo ainda em pleno plantio, abala as expectativas gerais de boa produtividade por causa do mau tempo. O alto índice pluviométrico da região atrasou o plantio em muitas áreas e, em outras, onde a semente foi depositada no solo na época prevista, os prejuízos já podem ser notados: parte dos grãos apodreceu debaixo da terra e o crescimento das sementes germinadas é inferior.
Na localidade de Caraguatá, interior do município de Canoinhas, a plantação de feijão do engenheiro agrônomo e produtor rural Donato Noernberg foge dos padrões da maioria nas plantações da região neste início de safra. O feijão cresce sadio e se desenvolve com normalidade até o momento, contrariando as condições climáticas. Segundo Noernberg, a chuva em excesso é um fator negativo para o cultivo de várias plantas, especialmente o feijão, que é uma planta muito sensível. ?Na sua germinação, o feijão retira toda uma porção de oxigênio, de ar, de dentro do solo. Quando fica muito tempo chovendo, a umidade se acumula e o equilíbrio natural do solo entre água e ar é quebrado?, explica. O agrônomo esclarece que o excesso de chuvas faz com que os poros do solo sejam ocupados por água, empobrecendo a quantidade de oxigênio presente na terra, o que ocasiona dificuldades na germinação e também apodrecimento da semente.
O produtor Noernberg ocupa as terras da propriedade com soja, milho, trigo, fumo e feijão, o último em menor proporção, embora a rentabilidade por alqueire esteja maior do que a oferecida por outras culturas. A rotação de culturas é levada à sério, assim como o cuidado na adubação e no controle de pragas. Segundo ele, um dos segredos para que sua lavoura esteja com bom desenvolvimento, mesmo com a adversidade climática é o preparo da terra anterior ao plantio e o cuidado na preparação das sementes. ?Aqui na minha lavoura, eu uso adubo orgânico produzido com os resíduos de suínos, acho que esse é um dos diferenciais. Além disso, eu também fiz um tratamento especial na semente antes de colocar no solo, pensando justamente na estação chuvosa. Ainda não foi aplicado nenhum fungicida e a lavoura não apresenta sinais de estragos?, revela.
CUSTOS
Crescimento retardado, amarelamento de folhas e surgimento de doenças aéreas devem se fazer presentes em grande parte das lavouras, principalmente nas plantadas em áreas mais encharcadas. O aumento no custo de produção deverá ser sentido devido ao maior uso de fungicidas para controle das pragas, de acordo com o agrônomo, que poderá chegar a 10% do custo de cada área. ?Esse custo não é tão sentido pelo agricultor. O que é realmente significativa é a quebra na hora da colheita. Todos esses problemas trazem danos que podem diminuir a produção?, afirma.
Além das perdas, a precipitação em excesso pode abalar a qualidade dos produtos agrícolas e o consumidor final sentirá a perda. Se durante a colheita a chuva persistir, características do grão, como coloração, ponto de cozimento e caldo poderão sofrer alterações, tornando o produto menos atraente, além de mais caro. Hoje a saca de 60 Kg de feijão preto é vendida por uma média de R$115 na região, mas, caso a perda seja acentuada, o valor deverá subir, reagindo ao mercado e chegando para o consumidor final com valor ainda maior do que é pago atualmente.
PREVISÕES
A previsão climática de precipitação para o trimestre novembro de 2008 a janeiro de 2009 para a Região Sul é de chuvas normais ou abaixo da média histórica. Em novembro, a média de chuva prevista é de 80 a 180 milímetros, segundo a previsão agroclimática realizada pelo Centro de informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina ( Ciram).
De acordo com as previsões do Centro, o período que compreende a primeira quinzena do mês ainda permanece com um padrão semelhante ao de outubro, ou seja, com elevada umidade do ar e chuvas freqüentes em Santa Catarina, alternados por períodos de 1 a 2 dias sem chuva. A partir da segunda quinzena do mês, essa condição tende a diminuir, ocasionando períodos mais longos de tempo ensolarado e com chuvas menos volumosas.
A torcida de Noernberg e de outros produtores que têm feijão crescendo no campo, ou trigo quase no ponto da colheita, é de que o mau tempo dê uma trégua e que o nível de chuva seja adequado, diminuindo as perdas e trazendo qualidade, também, para o consumidor final.
RISCO DE ENCHENTES
A preocupação do campo com o período chuvoso chega também aos centros urbanos. Em Canoinhas, áreas próximas ao rio, no Campo D?Água Verde já estão inundadas. Segundo o Corpo de Bombeiros, ainda não foi atendida nenhuma emergência, mas, caso as chuvas persistam, há risco de enchentes com a necessidade de retiradas de moradores de suas casas.
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