Casos de violência doméstica no Estado crescem em relação ao ano passado
Gracieli Polak
CANOINHAS
As mais de 100 horas do seqüestro passional da cidade de Santo André-SP, que terminou com a morte da jovem Eloá Pimentel, de 15 anos, atraíram os olhares do País nas últimas semanas. O jovem Lindenberg Alves Fernandes, inconformado com o fim do namoro de mais de dois anos decretado por Eloá, manteve a jovem em cárcere privado e a matou, com um tiro na virilha e outro na cabeça. Em Santa Catarina, no mesmo período, episódios tão violentos quanto o de Santo André, motivados por homens que não se conformam com o fim do relacionamento, não tomaram tanta atenção da mídia, mas servem como alerta de que este tipo de violência não dá trégua.
Alexsandra Spíndola, uma jovem de 22 anos foi morta com dois tiros na cabeça pelo ex-marido, em Jaraguá do Sul, um dia depois da morte de Eloá. Na mesma semana, em São Bento do Sul e Maracajá, motivados pela revolta contra a separação e por ciúmes, dois homens mantiveram seus filhos reféns, ameaçando-os de morte, como punição para suas ex-esposas.
Sete ocorrências de violência contra a mulher foram registradas em Canoinhas no mês de outubro, mas organizações ligadas à prevenção deste tipo de violência afirmam que a proporção dos casos denunciados é muito menor do que a ocorrência dos crimes, isto porque a vergonha e o medo de denunciar ainda são barreiras para as mulheres agredidas.
Durante o ano passado, 5.808 medidas protetivas como o afastamento do homem de casa foram realizadas em Santa Catarina, o que dá uma média de 15 medidas desta espécie por dia. Neste ano, somente até setembro, a média subiu para 17 agressões a cada 24 horas. A Lei 11.340, a Maria da Penha, também em setembro, superou a quantidade de processos realizados no ano passado inteiro, o que significa que, cada vez mais, as mulheres têm denunciado as diferentes formas de agressão, embora casos extremos voltem a chamar a atenção da população brasileira.
DISTÚRBIOS
Os conflitos de relacionamento, peças-chave dos casos de violência doméstica, são determinantes para o desencadeamento de ações anormais, que vão desde a agressão física até homicídios, como os ocorridos no mês de outubro.
Segundo o médico psiquiatra Franco Mazzaro, de Canoinhas, estes conflitos, quando não ultrapassam limites físicos e psicológicos, são normais e acontecem dentro de qualquer relacionamento, sem prejuízo para os envolvidos. ?A humanidade sofre por amor há muito tempo. Brigar e discutir, isso faz parte da relação. Em todo relacionamento há brigas, existem discussões que quando bem trabalhadas, ajudam a crescer, mas, a partir do momento em que elas trazem prejuízos para a relação ou para a pessoa, podem caracterizar distúrbios?, afirma.
Mazzaro explica que, especificamente no caso de Lindenberg, não é possível fazer um diagnóstico precipitado sobre que tipo de distúrbio ele possui, nem mesmo a classe a que pertence. ?O que é possível afirmar é que algum transtorno ele tem. Uma pessoa normal está dentro de alguns padrões que a sociedade aceita. Tirar a vida de outra pessoa não é normal, violentar pessoas a quem se diz amar também não é?, ressalta.
VIOLÊNCIA FINITA
P.H.D.P., em seus 27 anos de vida, nunca havia sofrido violência de um companheiro. No ano passado, depois de um fim tumultuado de um namoro de apenas quatro meses, a estudante universitária passou por perseguições, ameaças e uma tentativa de agressão pelo ex-namorado. ?Eu tive muito medo, porque ele me ameaçava, pressionava para que eu voltasse com ele, falava mal das minhas amigas e ficava procurando mil motivos para o fim do namoro, com promessas de que se a gente voltasse, seria diferente?, relata.
Depois de uma tentativa de agressão que resultou em um tapa no seu rosto, a estudante foi à delegacia, registrou Boletim de Ocorrência contra o ex-namorado e procurou se manter afastada dele. ?Resolvi não ficar quieta e denunciar, o que fez com que ele se mantivesse afastado de mim?, afirma. Segundo a estudante, o ex-namorado ainda mandava cartas, e-mails, fazia ligações constantes em seu celular e rondava a casa em que ela morava, situações que só diminuíram depois que ela procurou a Polícia. ?Ainda assim foi um período muito crítico da minha vida. Hoje eu me sinto recuperada, com certeza porque pude cortar o mal pela raiz, mas sei que há muitas mulheres que não fazem isso e passam por violência durante a vida toda. É uma realidade triste?, desabafa.
DENUNCIE
O Serviço de Proteção à Mulher funciona 24 horas, todos os dias da semana. Ligando para o número 180, a mulher vítima de violência encontra espaço para tirar dúvidas sobre seus direitos e esclarecimento sobre denúncias. A reportagem do CN entrou em contrato com a central, nesta semana, para verificar a funcionalidade do serviço. Em pouco tempo, a pessoa é atendida. Quem entra em contato com o serviço, é esclarecida sobre os direitos reservados pela Lei Maria da Penha. A atendente explicou que qualquer tipo de agressão, seja verbal ou física, é passível de punição e que a mulher que sofrer qualquer nível de violência doméstica deve imediatamente se reportar à Delegacia mais próxima e prestar queixa contra seu agressor. Imediatamente, o agressor é afastado do lar, a mulher é atendida pelo serviço de proteção à testemunha e assistida pelo que a Legislação assegura, para evitar que mais Eloás ou Alexsandras morram pelas mãos de ex-companheiros.
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