Vereadores querem saber por que videolaparoscópio é mais usado por particulares

Edinei Wassoaski

CANOINHAS
 
Vereador Alexey Sachweh (PPS) levantou polêmica na área da saúde na sessão de terça-feira, 3. Segundo ele, o aparelho de videolaparoscopia, doado pelo Governo do Estado ao Hospital Santa Cruz, estaria sendo usado mais por pacientes particulares, conveniados a seguros de saúde do que por pacientes do SUS. Este aparelho auxilia em cirurgias, tornando o processo menos invasivo e doloroso. “Parece que isto não está acontecendo em Canoinhas, onde estamos?”, esbravejou o vereador.
Os vereadores aprovaram um requerimento que foi encaminhado ao HSC pedindo que discrimine as formas de remuneração dos planos de saúde e como o uso dos equipamentos públicos é controlado.
Segundo a administradora do HSC, Salete Benetti, todas as solicitações de cirurgias por vídeo que chegam ao HSC são sumariamente aprovadas. “A porta de entrada do Hospital são os consultórios particulares e a Policlínica. Quando a pessoa chega, o encaminhamento já foi feito pelo médico”.
Segundo o cirurgião especialista no aparelho digestivo, Dr. Wagner Trautwein, as cirurgias por vídeo foram credenciadas pelo SUS há três meses. Antes, portanto, somente cirurgias de pacientes particulares eram possíveis com o aparelho. Neste período, no entanto, segundo o HSC, somente duas cirurgias foram realizadas pelo SUS. Do ponto de vista financeiro, para os médicos as cirurgias do SUS não são lucrativas. A equipe composta pelo cirurgião, auxiliar, anestesista e instrumentista recebe R$ 171,78 para fazer uma cirurgia de vesícula, por exemplo. O valor varia conforme a cirurgia. A remuneração tem de ser dividida entre os quatro profissionais. “Não querendo desmerecer as demais profissões, mas um encanador recebe mais por um serviço do que um médico para fazer uma cirurgia”, reclama Trautwein. Para “cirurgias abertas”, realizadas sem auxílio do vídeo, o SUS paga um pouco mais, cerca de R$ 205.
O Hospital também tem prejuízo. No mesmo exemplo da cirurgia de vesícula, o SUS paga R$ 521,27 para o hospital. Com o valor repassado a equipe médica, totaliza R$ 693,05 de repasse. O custo real da cirurgia é de R$ 790. Segundo Salete, é possível compensar o prejuízo de R$ 96,95 com outras cirurgias.
 
SOBRAM AIHs
 
A secretária de Saúde de Canoinhas Telma Bley diz que sobram Autorizações de Internação Hospitalar (AIHs) para cirurgias por videolaparoscopia. “É ilegal dizer que este tipo de cirurgia só se faz particular”, alerta. Telma abriu sindicância para apurar as denúncias feitas por Sachweh. Três auditores trabalham no caso.
 
Aparelhos públicos são dilema para hospitais
 
Além de darem prejuízo - o SUS não cobre 100% do custo de nenhum exame ou cirurgia feita com auxílio de aparelhos -, os equipamentos doados pelos governos nem sempre funcionam. Desde janeiro de 2008 estocado no Centro de Diagnóstico por Imagem, dois equipamentos – de endoscopia e colonoscopia – estão encaixotados. Segundo o administrador do Centro, Luiz César Batista, os equipamentos pertencem à prefeitura de Canoinhas, que pode retirá-los do Centro a hora que bem entender. Segundo ele, os equipamentos não estão funcionando porque não há autorização da Vigilância Sanitária. “Temos de primeiro aprovar o que já temos para depois partir para as adequações exigidas para o funcionamento desses aparelhos”, explica. Segundo Batista, o prédio do Centro não está adequado para oferecer os exames de colonoscopia e endoscopia. Feitos em clínicas particulares, estes exames custam entre R$ 70 e 150 (endoscopia) e R$ 500 e R$ 700 (colonoscopia). Enquanto os aparelhos seguem encaixotados no Centro, pacientes do SUS de Canoinhas e região têm de viajar até Joinville para fazer os exames.
Batista informa que em breve o Centro vai oferecer também o exame de mamografia. Hoje oferece ressonância magnética, raio X e ultrassonografia.