País tem mais ex-fumantes que fumantes, diz IBGE

Gracieli Polak

CANOINHAS
Aos 14 anos de idade, nas primeiras festas de que participou, Marcos Cornelsen Martins deu as primeiras tragadas. Aos 17, fumava mais de uma carteira por dia. Aos 23 parou por um mês, mas voltou ao vício. Hoje, aos 25, fuma de dois a três cigarros por dia, objetivando largar de vez o hábito.
Assim como Martins, 52% dos 24 milhões de fumantes brasileiros tentaram ou pensam em largar de vez o cigarro. Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na sexta-feira, 27, no Brasil há mais ex-fumantes (26 ) que fumantes (24,6 milhões), situação que deve se consolidar ainda mais com as recentes medidas restritivas ao tabaco tomadas no País.
Entrevistando mais de 51 mil pessoas em 851 municípios, o IBGE, em parceria com o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer (Inca), desenvolveu a primeira Pesquisa Especial Sobre o Tabagismo (Petab), que traça o perfil completo do consumo do tabaco no Brasil em números, perfis e hábitos dos fumantes. Segundo a Petab, os dados de 2008 revelam que, à medida que 96,7% da população conhece os riscos da nicotina, 17% faz uso da substância, seja fumada ou mascada. Dos fumantes, 93% sabem que o cigarro pode causar doenças graves, como câncer de pulmão, e 64% afirmaram pensar em largar o vício após ver os rótulos de advertência, obrigatórias nas carteiras do produto.
LEIS AJUDAM
A maior exposição ao tabaco, segundo os entrevistados, era na própria casa (27,9%), depois no trabalho (24,4%) e, em terceiro lugar, nos restaurantes (9,9%). Ignorados pelo IBGE, outros estabelecimentos públicos, como bares e casas noturnas, ficaram de fora da pesquisa. Para quem costuma conviver com o cigarro, as recentes leis anti-fumo que começaram a vigorar no País discriminam quem acende o cigarro, mas servem a quem não faz uso da nicotina. “Tem de respeitar também o espaço de quem não fuma, pois tem gente que não faz isso”, diz João Saulo Müller, fumante há mais de 25 anos.
Müller diz que não pensa em parar de fumar, mas para quem deseja abandonar o vício diversos serviços são oferecidos. Segundo a psicóloga Helena Lubbi, da Secretaria Municipal de Saúde, a procura por ajuda para largar o cigarro é bastante alta no município. “Mais de 100 pessoas já se livraram da dependência passando pelo nosso programa e mais de 80 estão na lista de espera”, afirma. Força de vontade, acompanhamento médico e persistência no tratamento, de acordo com a psicóloga, são elementos fundamentais para o abandono definitivo do vício.