Dependência digital pode causar consequências emocionais aos seus usuários
O advento das novas tecnologias trouxe significativos avanços para a comunicação da vida humana. Chegaram os dispositivos móveis, os aplicativos e com eles as famosas redes sociais. Por meio das redes sociais, as pessoas passaram a se conectar e se comunicar entre si de modo instantâneo, ou seja, elas começaram a enviar e receber informações de suas vidas sem precisar se encontrar pessoalmente. Além disso, esta interação pode acontecer, em tempo real, de maneira muito simples, em qualquer canto do planeta.
Com a facilidade e agilidade da comunicação digital as pessoas passaram a ficar por mais tempo conectadas em seus computadores e celulares. O excesso de tempo dedicado ao mundo virtual e o desligamento da realidade gerou nas pessoas um comportamento compulsivo, uma necessidade exacerbada das redes sociais. E tal comportamento vem afetando os hábitos básicos do cotidiano como alimentação, trabalho, estudos, a vida social e, em alguns casos, inclusive a higiene pessoal.
Dar aquela rápida olhada nas redes sociais na metade do expediente, no meio de uma reunião de trabalho ou no encontro de família e amigos tornou-se um hábito. Afinal, todo mundo merece uma folga para estar checando e ao mesmo tempo interagindo com o que está rolando por lá. E quando se tem algo para compartilhar, melhor ainda, seja uma foto, notícia, música ou até mesmo um textão.
A rede social possibilita infinitos universos para que as pessoas possam navegar, se conectar e se comunicar. Entretanto, muito mais do que locais para trocar informações, as redes sociais permitem ver e ser visto. Mas, e aí, qual é o problema em usar as redes sociais, tirar uma selfie, gostar de ver as interações nas próprias postagens e também ver o que os outros estão postando? Certamente, nenhum problema. A questão decorrente disso tudo é que as pessoas podem, sem se dar conta, sair do seu controle e o que deveria ou poderia ocupar um lugar pontual na vida pessoal de repente começa a ganhar mais atenção no virtual e afetar a vida social do usuário. O que era para ser uma simples postagem, passa a ser uma forma de sentir-se bem consigo. E a quantidade de interações frente àquilo que foi postado, torna-se um termômetro para medir o quanto se é admirado. Então, quanto mais curtidas e comentários, maior a confirmação de aprovação no que foi publicado e como consequência, o aumento da autoconfiança e uma euforia momentânea. Do contrário, uma tristeza, insatisfação e a frustração pela reprovação do público.
A interação com as redes sociais também pode causar alteração de humor que, de início, parece algo inofensivo, mas com o tempo essa reação pode ir ganhando tamanha proporção a ponto de transformar-se em um distúrbio emocional. Por exemplo, olhar os perfis de outras pessoas, ter uma pequena curiosidade sobre o que os outros estão publicando não é tão prejudicial quanto passar a perseguir a vida das pessoas, com um comportamento stalker, ou seja, o ato de vigiar, controlar e perseguir a vida de outra pessoa. Esse comportamento de modo contínuo pode ser extremamente maléfico à saúde mental, quando se transforma em ações abusivas e invasivas.
As redes sócias permitem que cada um escreva e possa editar o que bem quiser. Diferente numa fala em que é preciso ser cuidadoso com o quê e como se diz. Desse modo é possível supervalorizar o próprio ser ou até mesmo, se quiser, criar uma melhor versão de si que não necessariamente confere com a vida real e, consequentemente, ter uma repercussão positiva de quem está vendo. E esta possibilidade de mostrar ao mundo somente o lado bom de si ou apresentar um evento negativo somente sob a própria ótica, traz uma sensação de satisfação, por vezes, uma "felicidade tóxica".
A pessoa com dependência digital pode manifestar uma síndrome, mais conhecida como nomofobia, na qual a pessoa sente um medo irracional de ficar sem o seu telefone celular ou ser incapaz de usar o telefone por algum motivo, como a ausência de um sinal, o término do pacote de dados ou a carga da bateria. É perceptível o quanto as redes sociais podem causar consequências emocionais. Entre eles, comportamento agressivo, irritabilidade, postura competitiva e comparativa, ansiedade, medo, frustração, mal-estar, insegurança, baixa autoestima, fobia social, depressão, personalidade narcísica, desconforto e outros.
Sou compulsivo por redes sociais e agora?
Quando a pessoa reconhece que tal comportamento compulsivo em redes sociais está afetando a sua vida pessoal, os seus relacionamentos interpessoais, o seu trabalho, o seu estudo e que não está sabendo lidar sozinho, precisa buscar uma orientação psicológica. O psicólogo vai buscar identificar se a pessoa apresenta critérios básicos para uma dependência de internet e fazer com que a pessoa tenha ferramentas emocionais para lidar com as causas que fazem com que ela não consiga se desconectar. Assim como a compulsão por redes sociais pode estar associada a vários fatores da vida. Da mesma forma, o tratamento também será direcionado para tratar de outras questões relacionadas à vida da pessoa.
Um like, um comentário, um compartilhamento tornou-se mais significativo do que um elogio ou uma crítica construtiva? Uma paisagem é mais interessante quando editada por filtros ao invés de ser apreciada na sua totalidade? Será que as redes sociais deveriam ocupar um papel tão representativo nas nossas vidas? Será que estamos nos dedicando mais a elas ao invés dos nossos relacionamentos reais?
É pertinente refletir de que não existe uma vida perfeita. Na vida real não é possível colocar filtros, fazer recortes, pois somos espontâneos, vulneráveis e mutáveis. Lidar com as próprias frustrações, fracassos e fragilidades faz parte da vida humana. Lembre-se que as redes sociais representam apenas uma pequena parcela de quem somos. É impossível tirar conclusões sobre nós mesmos e outras pessoas baseadas somente nas redes sociais. Deixa no "modo mudo" e vai curtir o mundo.
Como usar as redes sociais de modo saudável?
- Administre o tempo dedicado às redes sociais, estipulando horários de acesso e controle a hora de desligar os dispositivos;
- Desative as notificações, alertas de mensagens dos aplicativos;
- Tenha uma agenda que não seja o celular;
- Tente ficar longe do celular quando estiver conversando com outras pessoas;
- Evite o comportamento stalker, ato de vigiar, controlar e perseguir a vida da outra pessoa;
- Aprecie mais a natureza, as paisagens, as pessoas e diminua a quantidade dos registros de fotos;
- Procure outras atividades como dar uma volta, ler notícias, aprender um novo hobby ou ler um livro;
- Organize programas com a família e amigos
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