População reclama da agressividade e das abordagens da PM de Canoinhas

Edinei Wassoaski

TRÊS BARRAS
 
“Esta Polícia é mal agradecida”. A frase lacônica é a única dita pela mãe de Antonio de Jesus Ribeiro, 50 anos, atingido por duas balas de borracha na noite de sábado, 11, durante uma perseguição policial pela rua Guilherme Prust, em Canoinhas. Ribeiro estava na garupa de uma motocicleta pilotada por Leandro Woginhak, 25 anos.
Segundo Ribeiro, ele estava em um bar no Campo d’Água Verde quando decidiu ligar para o vizinho para que ele lhe fizesse uma corrida de moto. Woginhak teria ido buscá-lo e na volta, ao ser interpelado por uma viatura policial, ignorou o pedido para parar e seguiu em alta velocidade. Os policiais seguiram a motocicleta e disparam inicialmente dois tiros de bala de borracha, que atingiram as costas de Ribeiro. No desespero, ele diz que se jogou da motocicleta, caindo no asfalto. Ribeiro diz que apanhou dos policiais que deram uma série de voltas com ele dentro da viatura até que ouvissem seu depoimento na delegacia e o liberassem.
O restante da história, quem conta são os parentes e vizinhos do piloto da moto que, segundo eles, fugiu porque não tinha carteira de habilitação, além de colecionar várias passagens pela Polícia por furtos.
Woginhak teria conseguido chegar ao bairro onde mora, o São Cristóvão, em Três Barras. A Polícia o seguiu até o local e, segundo os moradores e parentes, disparou balas de borracha a esmo, chegando a atingir o chão bem próximo de uma criança. Os policiais teriam ainda invadido casas e batido no suspeito na varanda da casa de sua mãe depois de tirá-lo debaixo do assoalho de uma casa vizinha. A Polícia alega que Woginhak carregava uma arma de fogo. A família nega. “Quando cheguei no hospital, ouvi os policiais combinando de dizer que ele tava armado”, conta a esposa de Woginhak. O suspeito precisou ser internado porque levou cinco tiros de bala de borracha nas costas. Ele recebeu alta na segunda-feira, 13, e foi conduzido ao Presídio Regional de Mafra.
 
SUSTO
 
A ação de sábado acirrou ainda mais os ânimos entre policiais e moradores do São Cristóvão. Os moradores reclamam da generalização do crime. “Sabemos que aqui tem muitos marginais, mas não é justo todo mundo pagar por isso”, reclama uma moradora que diz que policiais invadiram sua casa, assustaram seus filhos e brincaram com uma caixa de leite, jogando o conteúdo dentro das calças de um suspeito.
Outra moradora, ainda mais nervosa afirma que a Polícia está “massacrando” os moradores do São Cristóvão. Um menor com 17 anos diz que foi abordado e apanhou de policiais porque estava na rua depois das 23 horas.
Uma vizinha que acompanhou a ação da Polícia no sábado diz que viu seu filho de três anos entrar em choque. “Ele não pode ver policiais que chora”, conta. Ela afirma, no entanto, que foi a primeira vez que viu uma ação dessa grandeza no bairro.
Os moradores frisam ainda que a hostilidade parte dos policiais militares de Canoinhas. Tanto a Civil de Canoinhas quanto os policiais de Três Barras, dizem, são educados com os moradores do bairro.
 
SEGURANÇA NO BAIRRO É PRIORIDADE
 
O comandante do 3.º Batalhão de Polícia Militar de Canoinhas (BPM), tenente coronel Ricardo Assis Alves diz que não houve excessos na ação de sábado. Ele lembra que as balas de borracha foram disparadas porque havia um suspeito armado em fuga e é esta a orientação que os militares recebem. “Eles são treinados para isso e não atiram a esmo”. Ele lembra que a criminalidade no São Cristóvão tem crescido de forma galopante e que ações como esta, por mais que melindrem pessoas de bem, precisam ser tomadas para coibir o crime. Sobre a acusação levantada pela esposa de Woginhak, Assis ironiza lembrando que a PM não dispõe de verba para comprar armas a fim de incriminar suspeitos. Ele diz ainda que a PM de Canoinhas tem autorização para policiar qualquer bairro sob jurisdição do 3.º BPM, e isso inclui toda a cidade de Três Barras. “Quem se sentir lesado (por ações da Polícia) que venham até o comando reclamar”, sugere.
Assis afirma ainda que o policiamento no São Cristóvão será intensificado. “Quem for de bem não precisa fugir”, afirma justificando as balas de borracha. “Se a pessoa foge é porque tem alguma coisa a esconder”.
O comandante diz que pretende fazer uma reunião com a comunidade do bairro para discutir medidas para amenizar a criminalidade.
Hoje, o São Cristóvão é o campeão de ocorrências policiais na região. Em seguida vem o bairro Campo d’Água Verde. A maioria envolve drogas e furtos.