Em Joinville, uma pessoa morreu depois de ser atingida por balas disparadas por policiais
Edinei Wassoaski
CANOINHAS/JOINVILLE
Duas mortes provocadas por policiais militares de Joinville em pouco mais de 48 horas chamaram a atenção do comando da Polícia Militar do Estado. Os casos são semelhantes: policiais reagiram ao se deparar com homens armados — um com uma barra de ferro, outro com um facão — e supostamente descontrolados. A diferença é que um deles foi morto com balas de borracha.
O comandante da PM no Estado, coronel Eliésio Rodrigues, disse que os procedimentos de uso de armas não-letais vão ser modificados.
“Chamam a atenção e são estranhos os dois casos, mas não vou emitir nenhuma opinião sobre os episódios. Vamos abrir um inquérito policial-militar (IPM) para apurar tudo”, diz.
Rodrigues foi comunicado das duas mortes no final de semana passado. O IPM foi aberto na quarta-feira, 22, quando recomeçou o trabalho da corregedoria da Polícia Militar, que esteve de folga durante o feriadão.
O comandante da PM diz que a polícia está testando uma pistola chamada de Taiser. O armamento é norte-americano e usado na Europa e nos Estados Unidos. Dispara choques elétricos que imobilizam a pessoa que está sendo abordada.
A vantagem, segundo a PM, é que não mata. Talvez este equipamento tivesse sido mais eficaz do que as balas de borracha disparadas contra Edilson Lopes da Silva, de 34 anos, morto na sexta-feira, 17, e o vigilante Adenilson de Oliveira, 30 anos, morto no domingo, 19.
No caso de Edilson da Silva, ele teria entrado e depredado uma casa em construção no bairro Glória. A PM usou balas de borracha, mas não conseguiu detê-lo. O homem estava com uma barra de ferro e teria investido contra dois policiais. Um deles disparou um tiro de espingarda calibre 12 — com munição verdadeira — e acertou a cabeça da vítima.
No domingo, Edenilson de Oliveira estava armado com um facão e estaria descontrolado, no bairro Comasa. A PM foi chamada e um dos policiais disparou dois tiros de borracha contra Oliveira.
Segundo o laudo assinado pelo médico Nelson Quirino, o segundo tiro, que provocou a morte, foi considerado à queima-roupa, ou seja, numa distância menor que dois metros.
APRASC CRITICA FALTA DE MAIS TREINAMENTO
As duas mortes ocorridas em Joinville no fim de semana também chamaram a atenção da Associação dos Praças de Santa Catarina (Aprasc). Na opinião da entidade, a falta de treinamento mais constante dos policiais militares pode ser a causa das mortes de civis.
“ Nenhum treinamento vai substituir a realidade. Para se proteger e salvar a própria vida, o policial precisa atirar. Mas poderia ser um tiro de advertência ou preventivo” disse o vice-presidente da Aprasc, Elisandro Lotin de Souza, em matéria publicada no jornal A Notícia.
Para ele, o treinamento preventivo não é constante na Polícia Militar catarinense e alguns policiais ficam até cinco anos sem um curso de reciclagem. O vice-presidente da entidade também observa que é preciso analisar o que teria ocorrido durante a ocorrência. “A gente nunca sabe o que acontece em uma ocorrência policial deste tipo. É legítimo o policial atirar, até para matar, para proteger a própria vida”, diz o representante da entidade.
BALAS SÃO USADAS EM CANOINHAS
Até então pouco abordado, o uso de balas de borracha ganhou destaque em Canoinhas na semana passada, quando o CN publicou reportagem que mostrou o estado de dois suspeitos atingidos por balas de borracha durante uma perseguição. Um dos tiros foi disparado contra a cabeça do condutor de uma motocicleta e atingiu o capacete. “A criminalidade, infelizmente, está evoluindo, a Polícia não pode enfrentar bandidos como enfrentava 30 anos atrás”, defende o comandante do 3.º Batalhão de Polícia Militar, tenente coronel Ricardo Assis Alves.
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