César Gilnei Dalavalle foi detido no bairro São Pedro, na casa da avó. Na 4ª. SDP, ele confessa a autoria de quatro assassinatos

MARIANA HONESKO

 

PORTO UNIÃO - Ele tem apenas 19 anos, boa aparência e é querido pelos familiares. Mas, atrás dos cabelos castanhos claros e do olhar ingênuo, esconde-se uma pessoa capaz de ferir e matar um amigo. Aliás, não foi só um: quatro jovens perderam a vida quando atravessaram seu caminho. A história de uma série de assassinatos que chocou a comunidade e obrigou famílias a pedirem justiça, chegou ao fim. Em conjunto, a Policia Militar, Civil e o Poder Judiciário de União da Vitória prenderam no sábado, 21 de outubro, César Gilnei Dalavalle.

Conhecido como César Polaco, o jovem trabalhava e tinha um círculo grande de amizades. Tranqüilo, pacato e com um jeito tímido, César ganhou a confiança de pessoas que o acolhiam em casa como membro da família. Diante da revelação do nome do assassino de seu filho, Marlene Ferreira de Melo, se mostra incrédula. ?Não dá para acreditar mas a justiça foi feita. Bandido tem que ficar na cadeia?, disse ela que, junto com a filha e o genro, acompanhou a captura de mais seis pessoas que co-participaram dos crimes. ?Eles eram amigos, jogavam videogame junto. Tinham uma amizade normal. O César tinha um jeitão quieto, meio tímido. Era uma excelente pessoa. Agora caiu a máscara. Fiquei impressionado. Na hora que me contaram, não acreditei. Era uma pessoa de dentro de casa?, conta o cunhado de Marcos Ferreira de Melo, assassinado em agosto.  A detenção do grupo que participou na morte de outras três pessoas aconteceu no dia 23.

Durante o depoimento, César confirmou apenas a morte de Luciano Antunes de Lima, encontrado com um tiro na cabeça nas primeiras horas de sexta-feira, 20. Sobre os outros assassinatos, César negava qualquer informação. Depois de revistar todas as peças da casa da avó, na tentativa de encontrar a arma usada na morte de Luciano, a Polícia levou o acusado até a 4ª. SDP.

Depois de horas de negociação, César confessou a autoria de todas as mortes. Segundo o relato de testemunhas, a morte de Luciano foi anunciada por César em um pequeno bar na periferia de União da Vitória. ?Ele disse: ?hoje eu vou matar o Luciano?. Ele (César) até me convidou para ir junto dar uma volta. Eu disse que não e ele foi. O Luciano foi junto?, conta um jovem que foi até a 4ª. SDP e presenciou a prisão dos co-participantes. ?As voltas? que César dava na cidade eram feitas com seu próprio carro: um Uno de cor escura, placas de Francisco Beltrão-PR. A detenção dos co-autores levou outras famílias à comoção. Um senhor, pai de um dos presos, passou mal e teve que ser levado pelo Corpo de Bombeiros até um hospital.

Uma arma calibre 38 foi usada na morte dos três primeiros assassinatos. Já o tiro que matou Luciano saiu de uma arma calibre 32. Segundo a Polícia, a primeira arma foi vendida. Pelo crime, a justiça prevê detenção de 12 a 30 anos. Mas, dependendo da interpretação do Judiciário, a pena pode ser ampliada. A investigação também deve apurar se ele tinha algum problema psíquico. Com isso, os critérios usados na escolha das vítimas devem ser estudados.

 

Os crimes

Em agosto, o corpo de Marcos Ferreira foi encontrado no loteamento Furlan, no São Gabriel. Na ocasião, Marcos usava calça branca, cinto e sapato preto e camisa branca com listras verticais azuis. Ele morava no bairro Rocio, estava sem seus documentos e só foi identificado horas depois.

No mesmo dia, as mesmas características foram encontradas no corpo de Luis Roberto. Seu corpo foi achado na beira da estrada que dá acesso ao município de Porto Vitória (cerca de 600 metros depois do trevo). Luis Roberto usava uma calça jeans azul, moletom preto, cinto e sapato marrom. Seu corpo foi identificado na 4ª. SDP quando sua irmã e mãe registravam um Boletim de Ocorrência acusando seu desaparecimento.

Cerca de 20 dias antes do encontro desses dois corpos, Márcio Antunes também foi encontrado morto. Seu corpo tinha as mesmas características das de Luis Roberto e foi encontrado no mesmo lugar.

No dia 19 de outubro, o corpo de Luciano Antunes de Lima, 24 anos, conhecido como Luciano Canivete, foi encontrado na estrada que dá acesso ao município de Cruz Machado. Assim como nos outros homicídios, um tiro disparado na cabeça levou-o à morte.

 

Reconstituição dos crimes demonstra indiferença de César

De volta às cenas dos crimes, César mostra indiferença e ainda encontra brecha para piadas

 

Ele ri, arruma o topete na frente do espelho, fuma, faz piadas. Na reconstituição dos crimes, esse foi o comportamento de César.

 Além dele, mais seis pessoas envolvidas no caso, foram levadas às cenas dos quatro assassinatos. Foram quase quatro horas de simulações, perguntas e explicações. A operação, organizada pela Polícia Civil e apoiada pelo Poder Judiciário e Policia Militar de União da Vitória, aconteceu na quinta-feira, 26. ?O César estava fumando o tempo todo e dando risada. Um absurdo?, destaca o promotor da Vara Criminal do município, Ademir Ribeiro de Souza. O comportamento dele imitou sua atitude diante da escrivã, Eugênia Werus. ?Ele é frio. Disse que depois das mortes ligava o som alto e dava gargalhadas. Ele e os rapazes que estavam junto contaram isso. Enquanto ele matava, o som também era ligado alto para quem estava dentro do carro não ouvir o tiro?, conta.