Que dezembro que nada! Para muita gente, mês de compras é janeiro, época das queimas de estoque nas grandes redes de lojas
CANOINHAS ? A dona de casa Hélia Cordeiro aguardava ansiosa na fila a oportunidade de entrar na Loja Berlanda, na manhã de segunda-feira, 8. Ela esperava encontrar uma mesa com seis cadeiras. ?Pago até 200 reais?, revela, depois de ter passado pelas liquidações das lojas Ponto Frio, Colombo e Vieira, sem conseguir o jogo de mesa que queria pelo preço que estava disposta a pagar.
Com descontos de até 70%, seis lojas que fazem partes de grandes redes promoveram suas liquidações de início de ano, ao estilo ?limpa loja.? A maioria liquidou o estoque que estava em mostruário, o que, geralmente, é ganho pela loja da empresa que o comercializa, o que torna as superliquidações altamente lucrativas para os lojistas e interessante para o consumidor.
Mas é preciso pesquisar e madrugar nas portas das lojas para garantir um bom negócio. No caso da liquidação da Loja Berlanda, por exemplo, cerca de 25 pessoas estavam na fila esperando a loja abrir às 6 da manhã. As primeiras pessoas chegaram às 3 da manhã.
O esforço dos primeiros a entrar, no entanto, compensou. Conseguiram comprar jogos de quarto que custavam R$ 1,3 mil por R$ 500.
As 70 lojas da rede Berlanda participaram da promoção simultaneamente. Segundo a gerente da loja de Canoinhas, Célia Marshalk, os sete anos em que a rede promove o Liquida Loja, tornaram a promoção uma tradição. ?As pessoas guardam dinheiro e vem até a loja porque sabem que encontrarão boas ofertas?, avalia.
BALANÇO
Enquanto a Berlanda mantinha fila na frente da loja, concorrentes como Salfer, Ponto Frio e Colombo comemoravam os resultados alcançados com suas promoções nos dias anteriores.
Claudemar Caseiro, gerente da Salfer, revelou que no dia da promoção, 27 de dezembro, a loja dobrou seu lucro diário. O sucesso da promoção, Caseiro credita ao fato de as vendas não se aterem a produtos de mostruário. ?Vendemos produtos embalados também, com o preço de promoção?, revela. Os descontos chegaram a 50%. Muitos dos produtos continuaram com o preço de promoção depois do dia 27, o que não diminuiu o movimento.
Satisfeito também ficou o gerente da loja Colombo, Evandro Signori. Ele diz que as vendas dobraram a expectativa nos dois dias de promoção (sexta e sábado passados). Algumas mercadorias com 20 amostras em estoque foram esgotadas em um dia, havendo necessidade de reposição em dobro. Mesmo assim as vendas ficaram cerca de 10% aquém do volume de janeiro de 2006. Mas essa pequena retração tem um ponto positivo e altamente lucrativo. Noventa e cinco por cento das vendas foram efetuadas à vista, o que revela que a facilidade de crédito que virou febre em 2006 já apresenta efeitos colaterais. ?As dívidas no cartão de crédito, que cobra juros de mais de 10% ao mês, com financeiras diversas ou até mesmo bancos, intimidam o consumidor e o forçam a comprar somente com dinheiro no bolso?, analisa a economista Karin dos Santos.
Para as lojas que lucram com prestações a perder de vista, oferecidas até mesmo nas megaliquidações, este lucro é bem-vindo, mas a garantia do dinheiro na mão nas compras à vista é muito mais atraente, já que liberação de crédito não é garantia de recebimento.
MÓVEIS FORAM CAMPEÕES DE DESCONTO
Os móveis, seguidos de utilidades domésticas, foram os campeões em descontos.
A liquidação de móveis é reflexo de um ano extremamente ruim para o setor.
De acordo com a Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) os principais fatores que inibiram a evolução dos negócios em 2006 foram perda de rentabilidade das exportações devido ao câmbio, elevada carga tributária, juros altos, grande concorrência de mercado e declínio das vendas externas.
As indústrias moveleiras catarinenses observaram suas vendas reais (faturamento, já descontada a inflação) caírem 3% nos dez primeiros meses do ano. O entrave das exportações deixou produção encalhada que chega nas lojas com preço bem aprazível que, quase sempre, é repassado ao cliente.
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