Madeireiros vêem o plantio de pinus como uma alternativa econômica para a região
CANOINHAS ? Há mais de dois anos, os madeireiros do Planalto Norte vem sofrendo com a política econômica do Governo. Muitos já falaram até em fechar as portas se Lula fosse reeleito. Até agora, ninguém chegou a este extremo, mas os cortes em pessoal se configuraram em uma solução paliativa para evitar medidas mais drásticas. Os casos mais críticos estão nas empresas exportadoras ? a maioria ? que viram suas esperanças de dias melhores desaparecem na crise cambial, juros altos, pesada carga fiscal e o não pagamento dos créditos da Lei Kandir.
Os custos cada vez maiores dos insumos principais - energia elétrica, transporte, combustível, pessoal e tributos -, aliados à burocracia e à falta de infra-estrutura adequada no País, deixam a situação ainda mais difícil. As empresas não têm acesso a crédito e deixam de investir.
Os empresários apontam como solução para seus problemas o aumento do dólar (para R$ 2,50) e a redução do juro e das alíquotas de importação. Desde o início da crise, o faturamento caiu pelo menos 25%.
Para o vice-presidente regional da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Carlos Ivanov Hristo, o quadro é crônico. Ele não acredita mais em reforma tributária, que apenas melhora um erro.
Para ele, é necessário um novo sistema tributário, além de uma reforma política que defina o que é União, Estados e municípios e quais as responsabilidades de cada esfera. Enquanto isso não ocorre, incentiva investimentos em tecnologia e mão-de-obra.
Plantio de pinus pode reaquecer economia
Atualmente, há uma preocupação que aflige os empresários do setor moveleiro no Planalto Norte no que se refere à escassez da madeira de pinus spp para os próximos cinco anos. Pesquisas apontam para a falta de matéria-prima como principal causa.
O que parece um problema, na visão do empresariado, pode ser considerado uma alternativa para que as madeireiras voltem a aquecer a economia, comprando pinus de terceirizados.
Um dos fatores para o plantio insuficiente de pinus está na falta de incentivo fiscal, aliado ao descrédito do setor. Apesar dos grandes reflorestamentos que a cada dia tomam conta de áreas antes utilizadas para a agricultura ou de matas nativas, os madeireiros já estão conscientes que poderá faltar matéria-prima nesta década. Para evitar a crise no setor madeireiro e moveleiro, o ex-governador de Santa Catarina, Esperidião Amim (PP), por meio da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, tentou implantar um programa para desenvolver o reflorestamento de pinus spp em pequenas propriedades rurais catarinenses. Assim, lançou um projeto para atingir aproximadamente 55 mil famílias de pequenos agricultores em 80 mil hectares, plantando 130 milhões de árvores em quatro anos. O projeto, no entanto, está esquecido.
O empresário Hilton Ritzmann defendeu o pinus em artigo publicado no CN há duas semanas, como ?o principal instrumento de crescimento da economia, do desenvolvimento social, da geração de emprego e renda e, principalmente, da preservação do meio ambiente?. Ritzmann enfatiza ainda que a atividade reflorestadora de pinus contribui para a redução do impacto sobre as florestas nativas. Um bom exemplo é o trabalho desenvolvido há mais de 50 anos pela divisão florestal da Rigesa, de Três Barras.
Pelo lado financeiro, plantar pinus spp no Planalto Norte ainda é um atrativo, pois cada árvore de pinus spp equivale a um barril de petróleo (US$ 56). Um hectare de árvores adultas vale, em média, US$ 100 mil.
?Madeireiro não é vilão?
Embora tenha sido uma das empresas que menos sofreu o impacto da crise que assolou o setor nos últimos anos, a Fuck S.A. demonstra que é na crise que se investe, especialmente em marketing. Na semana passada, a empresa esteve expondo suas portas e compensados na 15.ª Feira Internacional da Indústria da Construção (Feicon), em São Paulo. Gerente de vendas da Fuck S.A., César Nascimento, avalia positivamente a presença da empresa numa feira do porte da Feicon e defende a idéia de que é na crise que se faz necessário o investimento. ?Sofremos pouco o impacto da crise porque comercializamos mais de 50% de nossa produção no mercado interno?, explica salientando ainda que uma das soluções para a crise é a mudança de visão do setor. ?Madeireiro não é o vilão do meio ambiente?, afirma. Acompanhe os principais trechos a entrevista:
Correio do Norte: O senhor concorda que é na crise que se faz necessário o investimento?
Nascimento: O empresário não tem poder para mexer no preço internacional, mas pode fazer uma reengenharia em sua estrutura. Hristo (Carlos Ivanov Hristo, presidente do Sindimadeira) ressalta que não se pode ter medo de investir. Nestes quase três anos de crise, a sua empresa vendeu muitas máquinas para madeireiras da região.
Algumas mudaram radicalmente o parque fabril, a fim de reduzir perdas e produzir mais. Para ele, esta é a porta de saída da crise.
CN: Qual a saída do ponto de vista governamental para alavancar o setor madeireiro?
Nascimento: Melhoramentos na infra-estrutura, serviços públicos, diminuição da carga tributária, mudanças nas leis trabalhistas que proporcionem incentivo a criação de novos postos de trabalho, diminuição da burocracia. Resumindo tudo isto se chama Custo Brasil.
CN: A indústria deve acreditar na alta do dólar?
Nascimento: Recentes indicadores da economia brasileira dão sinais de retomada da atividade, à medida que os juros continuam sendo reduzidos. Já a economia mundial parece se inclinar em direção a uma desaceleração apenas gradual, depois de diversas referências nos Estado Unidos afastarem a possibilidade de recessão.
Estes dois componentes tornam difícil a previsão para o comportamento futuro do dólar.
Agora, no curto prazo, uma total correção desta subvalorização do real parece pouco provável.
CN: Quais os frutos esperados de uma feira como a Feicon?
Nascimento: Tratando-se de uma feira internacional, você expõe seu produto para praticamente todas as regiões do mundo, abrindo assim novas fronteiras de negócios.
Desta forma, você melhora tuas perspectivas tanto internamente como externamente em todos os sentidos, melhorando além dos negócios, adquirindo novos conhecimentos, podendo melhorar todo conjunto de seu negócio, dentro de uma visão sistêmica.
CN: Chamou atenção na Feicon, a presença de chineses. O senhor acha que eles são uma ameaça a nossa economia como um todo? Não seria o caso de o nosso governo criar salvaguardas aos produtos chineses?
Nascimento: A China hoje é uma ameaça global, todas as economias estão de olho nela. A diferença deles é que tem um baixo custo de produção, pois a carga tributária é baixa, o custo do dinheiro também é baixo, não há excesso de encargos trabalhistas, a burocracia é palavra desconhecida.
O Brasil deve ficar de olho, pois devemos nos proteger em vários segmentos, do contrário corremos riscos muito sérios.
CN: Qual o futuro que o senhor vislumbra para a indústria da madeira?
Nascimento: A industria da madeira ainda precisa de uma maior valorização como segmento econômico, urge uma integração maior dos órgãos que dão rumos para a mesma. Da mesma forma a gestão administrativa, a organização do empresariado, precisa mudar para que ela passe a figurar com mais força e tenha o espaço que merece. Para que isto ocorra é necessário mais cooperação. Um exemplo de força é o da indústria automobilística. Para o financiamento de um automóvel, o crédito é liberado em 24 horas, ao passo que para a construção de uma casa, muitas vezes 1/4 do valor do automóvel, leva-se até seis meses para liberação.
Precisamos quebrar o paradigma que o madeireiro é aquele que destrói o meio ambiente, hoje mais de 80% dos nossos produtos são ecologicamente corretos, e isso precisa ser divulgado.
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