Sindicatos travam verdadeira batalha para fazer valer o piso estadual já este mês

Edinei Wassoaski

CANOINHAS
 
Casada há seis anos, até hoje a auxiliar de linha de produção Bruna de Souza não se encorajou em engravidar. Não que faltasse vontade. “Sempre quisemos, mas com o que ganhamos fica difícil”, justifica.
A aprovação do salário mínimo regional, que deve inflar em até 33% os ganhos de quem recebe o salário mínimo nacional, trouxe esperanças para Bruna de, enfim, ter seu primeiro filho. Ela é uma dos mais de 2 mil assalariados que trabalham na indústria madeireira – responsável por 40% da mão de obra empregada em Canoinhas. Se colocado em prática, o mínimo regional vai garantir R$ 151 a mais todos os meses no bolso de Bruna.
Danielson Ferreira de Barros, que hoje recebe R$ 540 – ele passou de auxiliar de linha de produção a operador de máquina – é casado, mas pretende continuar sem filhos. Acredita que o aumento torne as compras de supermercado mais incrementadas. “Pago aluguel, então hoje sobra pouco para o mercado”. Sua esposa trabalha meio período por semana para ajudar nas contas.
Para quem tem filhos, como é o caso de Dircélia Kobalski e Joel Ferreira dos Santos, o aumento vai ajudar a oferecer uma educação melhor a seus filhos. “Em primeiro lugar vem o estudo dos meus filhos”, diz Dircélia, que também recebe o salário mínimo. Ela sonha ainda em terminar a construção de sua casa.
Depois de citar o estudo dos filhos, Santos também cita a possibilidade de robustecer a dispensa. “Dá pra melhorar as compras no mercado com certeza”, afirma.
 
DISPUTA
 
Enquanto os trabalhadores sonham com o aumento, as negociações entre os sindicatos das categorias e dos patrões não chegam a um acordo. Polêmica maior está no comércio, que até concorda em pagar os novos salários, mas se nega a pagar valores retroativos ao ano passado. A primeira batalha foi vencida na Justiça, que autorizou as lojas a abrirem no horário especial de Natal, inclusive aos domingos. O Sindicato dos Comerciários orientou os funcionários a não fazerem horas extras enquanto os patrões não sinalizassem com acordo para começar a pagar o novo mínimo, fixado em R$ 647.
O Sindicato das Empresas de Serrarias, Carpintarias, Madeiras Compensadas e Laminadas, Aglomerados e Chapas de Fibras de Madeira de Canoinhas (Sindimadeira), que emprega 40% da mão de obra registrada de Canoinhas, Três Barras e Major Vieira até concorda em negociar dentro dos parâmetros do novo mínimo, mas só em maio, quando vence a convenção trabalhista do ano passado. Segundo o presidente do Sindimadeira, Norberto Fuck, as empresas devem pagar o mínimo nacional (R$ 510) a partir deste mês, mas a negociação do novo salário, só em maio. A decisão foi tomada em reunião realizada em 6 de janeiro entre diretores das madeireiras da região.
O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção e do Mobiliário de Canoinhas, Três Barras e Major Vieira (Siticom) promete revidar. Segundo o presidente Alípio Castanho de Araújo, se não houver acordo imediato, a questão vai para a Justiça do Trabalho. Além de exigir a aplicação do mínimo regional este mês, o Siticom pede que as madeireiras se enquadrem na categoria “indústrias do mobiliário”, com mínimo de R$ 616. O Sindimadeira discorda por entender que mobiliário se refere a móveis e as madeireiras seriam extrativas e de beneficiamento, se enquadrando, portanto, na menor faixa (R$ 587).
Dor de cabeça maior terão as cerâmicas, que entram na faixa mais alta (R$ 679). Segundo Araújo, elas devem se manifestar sobre a aplicação do novo mínimo até hoje. O presidente do Siticom comemora o novo mínimo como a maior conquista do sindicalismo em 30 anos. Sobre as queixas dos empregadores, lembra que boa parte das empresas está trabalhando nos sábados e com a produção de meses toda vendida. “Se tem dinheiro para pagar horas extras, terão para pagar o mínimo”, raciocina.