Lojas devem fechar o mês com 30% a menos de faturamento, avaliam gerentes
Edinei Wassoaski
CANOINHAS
Hoje é dia de os lojistas fecharem as contas do mês e os gerentes das maiores lojas de eletrodomésticos de Canoinhas já prevêem que o resultado não será dos melhores. O culpado? A maioria diz que o estacionamento rotativo, implementado em 1.º de outubro, derrubou as vendas em 30 dias de vigor. “Acabou com o movimento”, protesta a gerente da loja Berlanda, Célia Marshalk. Ela acredita que o consumidor compra por impulso. “Mas como vai comprar se ele tem de pagar pra ver as ofertas?”, pergunta. Os questionamentos não param por aí. “As pessoas costumavam estacionar e pesquisar os preços, mas como vão fazer isso se tem um tempo para deixar a vaga senão vão ser multados?”, indaga o gerente da Mercado Móveis, Izoroel Batista da Silva.
No Festival da Casa, segundo a gerente Raquel Iarrocheski, clientes que entram com muita pressa alegando que precisam voltar logo para o carro porque está esgotando o tempo do estacionamento, ganham um cartão de cortesia. “É a forma que encontramos de manter o cliente”, explica.
O subgerente da Ponto Frio, Rafael Paisani Klapouch, concorda com a concorrência, mas acredita que as pessoas ainda vão se acostumar com a mudança. “Acredito que as pessoas vão entrar nessa nova rotina, é uma questão de tempo, mas até lá levamos prejuízo”.
As lojas estimam em 30% a queda das vendas no mês de outubro.
O gerente da loja Salfer, Paulo Rodrigues da Silva é o único a comemorar os resultados do mês. “Não tivemos prejuízo, por sinal esse foi o melhor mês do ano”, festeja. Silva reclama, no entanto, da dificuldade para receber e despachar mercadoria. A lei do estacionamento rotativo determina que caminhões de carga e descarga só podem circular pelas ruas pedagiadas das 18h30 às 8h30. Mas a queixa principal não é exatamente o horário. Na rua Francisco de Paula Pereira, que concentra as maiores lojas varejistas da cidade, existe apenas uma vaga para estacionamento de caminhões. “Além de tudo ainda a vaga fica na frente dos Correios”, protesta Silva. Como as lojas ficam todas na outra esquina, torna-se um dilema transportar mercadorias maiores. “A dificuldade maior é em dia de chuva”, conta o motorista Ivonei Lecin. A solução é fretar um carro menor com carroceria para retirar a mercadoria da loja e transferir para o caminhão.
Célia conta que os fiscais são implacáveis. Mesmo que os caminhões tentem estacionar rapidamente em dias de chuva, por exemplo, são multados tão logo sejam flagrados.
MUDANÇA DE HÁBITO
Não é só nas vendas que os lojistas sentiram impacto. No caso da vendedora Renilda Muchinski Alves da Silva, que trabalha na rua Francisco de Paula Pereira, o estacionamento rotativo a fez acordar meia hora mais cedo. Desde o dia 1.º ela deixou o carro na garagem e segue a pé cerca de 5km entre sua casa e o trabalho. “Pra descer tudo ajuda, mas para subir...”, brinca.
Sérgio Bilitzki não foi tão radical. Trocou o carro pela motocicleta, mas reclama da falta de vagas. Na rua Francisco de Paula Pereira, há apenas um espaço para oito motos. “Se não der sorte de achar vaga tem de estacionar em outra rua”. As reclamações de motociclistas, por sinal, é uma das mais repetidas no escritório da Serttel, que administra o Rotativo Canoinhas. Com o novo sistema em vigor, quem tem moto, passou a deixar o carro na garagem para evitar pagar estacionamento.
Solução feliz tiveram os funcionários das lojas Bandeirantes. O proprietário do grupo, Amadeu Peron, adaptou um terreno próximo às lojas para comportar os carros dos funcionários. Pela gentileza, os empregados pagam R$ 20 por mês como taxa de manutenção do espaço.
Donos de vans de cachorro-quente vivem dilema
Eles reclamam de descaso da prefeitura com o setor
CANOINHAS
Marilda Fernandes Demétrio teve de resolver no grito o dilema que passou a enfrentar desde que o estacionamento rotativo foi implementado. Dona de uma van de cachorro-quente, viu seu negócio ameaçado quando tomou conhecimento da Lei que instituiu o Rotativo Canoinhas. Pela regulamentação, as oito vans de cachorro-quente que operam hoje em Canoinhas têm de seguir as mesmas regras válidas para carros comuns. Além de pagar pelo estacionamento, não podem passar mais de duas horas na mesma vaga. “Eles querem que eu rode, mas sapateio e não rodo”, diz com convicção. Os questionamentos de Marilda são pertinentes e aparentemente convenceram a Serttel, que não insiste mais para ela rodar. Apenas cobra R$ 5,75, que é valor das nove horas diárias em que o rotativo funciona. Mesmo assim, Marilda não está satisfeita e movimenta os demais donos de vans a colher assinaturas em um abaixo-assinado pedindo que eles tenham o direito de trabalhar. “Quero colher duas mil assinaturas”, afirma. Vereador Beto Passos (PT) já apresentou projeto de Lei garantindo isenção aos donos de vans de cachorro-quente, mas não deve passar (leia matéria ao lado).
Marilda diz que paga R$ 95 para a prefeitura para manter o alvará de licença. “Se no alvará diz que o meu lugar é no estacionamento em frente à (Farmácia) Vital, como tenho que rodar?”, questiona.
Para mudar Lei, processo de licitação tem de ser anulado
Secretário diz que Conselho Municipal de Trânsito analisa pedidos
CANOINHAS
Todos os gerentes de lojas e proprietários de carros de cachorro-quente que reclamaram para o Departamento de Trânsito da prefeitura ouviram que as queixas têm de ser remetidas a Serttel, porque a questão não depende mais da prefeitura. O diretor da Serttel devolve o pepino para a prefeitura. “Cumprimos o que diz a Lei, posso ser acionado judicialmente se não cumprir o contrato”. Ele admite, no entanto, que ajustes têm de ser feitos.
O secretário de Administração da prefeitura, Argos Burgardt, explica que a questão está amarrada pela Lei. “Recebemos inúmeros pedidos, mas qualquer alteração que implique em receita ou despesa da empresa vencedora do processo licitatório anula todo o processo e faz com que tenhamos de abrir outro processo licitatório”.
Burgardt desconhece que nos alvarás de vans de cachorro-quente tenha a discriminação do local em que eles tenham de ficar. “O nome já diz, ambulante, não pode ser fixo”, argumenta.
O secretário conta ainda que o Conselho Municipal de Trânsito se reúne seguidamente par avaliar as queixas e propor mudanças. “Nosso objetivo não é multar, é organizar o estacionamento”, conclui.
De qualquer forma, os cinco fiscais que estão trabalhando no sistema multam ao menos 50 motoristas por dia, o que abre precedente para outra polêmica – a competência para multar. Teoricamente, os fiscais apenas notificam o motorista, mas é o formulário de notificação que serve de base para que a Polícia efetive a multa. Pela legislação, somente policiais militares ou agentes de trânsito (em caso de convênio com o município) podem multar.
Em 16 de novembro começa a segunda fase do rotativo em trechos das ruas Caetano Costa, Travessa Ubaldo Ricardo da Silva, Frei Menandro Kamps, Coronel Albuquerque e Eugênio de Souza.
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