Depois de depredada, escola isolada do Capão do Erval abriga sete moradores

Edinei Wassoaski

CANOINHAS

 

Há oito meses Márcia Padilha vive com o marido e cinco filhos em um local onde deveriam estar mesas, cadeiras, quadro negro, giz e apagador. Abandonada há dois anos, o prédio onde funcionava a Escola Isolada do Capão do Erval passou por um rápido e impiedoso período de degradação, do qual só restaram as paredes e o precário telhado que pouco protege a família da chuva. Até os tacos que revestiam o piso foram arrancados. Os vidros das janelas foram todos milimetricamente quebrados, os vasos sanitários e as pias dos banheiros desapareceram e até mesmo os bocais das lâmpadas foram levados. O que restou serve de abrigo para a família de Márcia.

Ela conta que sua família morava de favor com uma irmã na antiga vila Zugman quando o presidente da Associação de Moradores do Capão do Erval, Valdinei Marcondes, recomendou que eles se mudassem para a construção abandonada. Segundo Márcia, o próprio prefeito Leoberto Weinert (PMDB) teria assegurado a ela que ninguém irá tirar a família de lá. ?Ele garantiu para nós, e disse que vai tentar arrumar outro lugar, mas enquanto isso a gente continua aqui?, conta Márcia.

Para o vereador Paulo Glinski (DEM), a prefeitura não pode ceder imóvel público para particulares sem autorização da Câmara dos Vereadores. ?A prefeitura poderia até ceder esses imóveis para as associações de moradores, mas teria de estabelecer critérios para utilização do imóvel?, explica. Glinski disse que vai fazer um requerimento a prefeitura pedindo informações sobre o destino dos prédios onde funcionavam escolas.

 

CASO NÃO É O PRIMEIRO

 

Percebendo a necessidade de as crianças da localidade do Parado estudarem em uma escola mais próxima de casa, um grupo de pais fez um mutirão e construiu uma escola com recursos privados. O município se comprometeu a fornecer professores e material de manutenção. A escola que levou dois anos para ser edificada foi esvaziada da noite para o dia, mesmo com a promessa da prefeitura de rever a ideia de fechar a escola e encaminhar os alunos para a escola Reinaldo Kruger, no Alto do Frigorífico. Com o fechamento da Argos Steilein, mesmo sob protesto dos moradores, o prédio foi completamente abandonado, assim como um posto de saúde, que funcionava ao lado. O mato tomou conta do terreno, chegando a esconder as construções.

A justificativa para fechar escolas como a Argos Steilein tem amparo em Lei, que não destina recursos do Fundeb para municípios que mantenham menos de 30 alunos em cada sala de aula.

 

MAIS DE 17 ESCOLAS NUCLEADAS

 

Segundo Dircélia Santos Lima, responsável pelas escolas do interior do município, desde o primeiro mandato de Leoberto Weinert (PMDB), 17 escolas isoladas, do interior, foram nucleadas a outras escolas. O processo de nucleação consiste na extinção de uma escola com poucos alunos, que são transferidos para escolas próximas, nas quais existam vagas em aberto. A prefeitura garante o transporte dessas crianças para as novas escolas que, geralmente, ficam bem mais distantes de suas casas. Dircélia cita o exemplo da escola da Serra das Mortes, que tinha cinco alunos. A escola foi fechada e os alunos transferidos para a unidade da Barra Mansa.

Hoje somente seis escolas funcionam como isoladas ? Campo dos Ribeiro, Sítio dos Correa, Campo dos Buenos, Fartura, Paula Pereira e Bonetes. ?Nós recomendamos aos moradores que usem o espaço para fazer clubes de mães, cursos, enfim, o prédio é da comunidade?, argumenta Dircélia. Ela explica ainda que não é ilegal a ocupação das escolas abandonadas por particulares, desde que os interessados procurem a prefeitura e façam um contrato de uso dos imóveis.