Elcio Munhoz nasceu cego, mas não deixou essa deficiência limitá-lo. Hoje, aos 33 anos, exemplo de persistência e superação, está prestes a se formar no curso de Gestão Pública da UnC
CANOINHAS ? Nascer cego é uma barreira que, para muitos, parece ser insuperável. Nascer cego em Bonetes, interior de Canoinhas, pode ser um agravante que aumenta essa barreira, dadas as limitações estruturais da região. Para Élcio Munhoz, no entanto, esses fatores parecem tê-lo incentivado ainda mais a vencer na vida. Esse desejo está presente na fala mansa, porém determinada desse calouro a gestor público, a poucos dias da formatura.
Em 11 de março, Élcio fará história. Estará entre os primeiros formandos do curso de Gestão Pública da Universidade do Contestado (UnC) e, provavelmente, será o primeiro gestor público profissional cego do Brasil.
Essa história, que agora parece laureada por flores, no entanto, nem sempre foi assim. Élcio ainda lembra das dificuldades que enfrentou quando, depois dos 20 anos, decidiu estudar. O apoio veio dos professores da Escola de Educação Especial que funcionava inserida no Colégio Estadual Santa Cruz. A Escola, na verdade, começou como uma pequena sala, onde poucos alunos, entre eles Élcio, aprendiam a tatear o braile e interpretar os pequenos pontos elevados em papel especial como letras do alfabeto. Nessa fase, o apoio e incentivo da professora Cirlene Volani Tonetto ? responsável pela criação da Sala de Educação Especial ? foram decisivos.
Em um ano e meio, Élcio estava alfabetizado em braile.
Com esse conhecimento, ele achou que ninguém o seguraria. Nos estudos, pelo menos, não houve quem o impedisse de chegar ao Ensino Médio por meio do Centro de Educação de Jovens e Adultos.
A conclusão do Ensino Médio, abriu uma nova possibilidade de superação a Élcio ? a faculdade.
Não deu outra. Com as oportunidades criadas pelo Governo para inclusão do deficiente físico na Universidade, Élcio conseguiu recursos do Artigo 170 e teve seus estudos custeados integralmente, com porcentagem paga, também, pela própria UnC.
Questões financeiras resolvidas, o problema da deficiência visual também tinha solução. A UnC providenciou uma máquina que datilografa em braile. Dessa forma, todo o material que para os outros alunos de Gestão Pública era impresso, para Élcio, era codificado em braile.
ANOS DIFÍCEIS
?Dificuldades, dedicação, superação?, assim Élcio define os anos que passou na universidade. A recompensa, no entanto, supera qualquer dificuldade. ?Hoje tenho outra perspectiva de vida, vislumbro outro horizonte?, define.
O apoio dos colegas de sala também foi decisivo para Élcio chegar aqui. Uma das colegas, Suzete Borges, lia para ele poder embasar seu projeto de conclusão de curso. O projeto, não poderia ter outro tema senão os deficientes físicos, nesse caso, sob a ótica do mercado de trabalho. Trabalho, aliás, é o que esse novo profissional quer agora. ?Estou mandando currículos para empresas e acreditando que a Lei que estabelece cotas para deficientes em determinadas empresas, seja cumprida?, lembra.
Élcio acredita que o entrave na contratação de deficientes esteja no preconceito. Em sala de aula, pelo menos, isso não é problema para ele. ?Quando você mostra que é capaz, as pessoas passam a te ver sem preconceito?, acredita. Resta descobrir uma forma de mostrar isso ao empresariado.
PALAVRA DE PROFESSOR
O coordenador do curso de Gestão Pública da UnC, Adriano Bauer, se desmancha em elogios a Élcio. ?Ele é inteligente e dedicado ao extremo?, define Bauer.
O professor acredita que Élcio tem potencial e, por isso, a própria Universidade deve se empenhar na colocação do formando no mercado de trabalho.
?Ele quebrou paradigmas, superou barreiras e isso tem que ser valorizado?, conclui Bauer.
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