Libaneses que moram em Canoinhas e Três Barras rezam pelos familiares encurralados pela Guerra no Líbano
CANOINHAS ? A cada míssil disparado em direção ao Líbano, aumenta o aperto no coração de Kaissar Sakr, que tem dois irmãos, um cunhado, uma cunhada viúva e oito sobrinhos morando a cerca de 35 quilômetros da capital libanesa, Beirute, principal alvo dos ataques israelenses. ?Telefono sempre para eles. Eles me dizem que está tudo bem, mas a gente fica apreensivo?, conta Kaissar. Libanês de nascimento, Kaissar veio para Canoinhas em 1952, mas nunca perdeu o contato com os familiares no Líbano. Nas conversas que mantêm com os parentes sempre houve protestos de revolta. ?O Líbano não fez nada, não deve nada, está pagando o pato pelo que não fez?, ouviu Kaissar de um sobrinho. Ele protesta contra a ação da minoria aliada ao Hezbollah, responsável pelo seqüestro de dois soldados israelenses no mês passado, o que desencadeou a Guerra.
Gebrael El Kouba, libanês que foi um dos precursores do município de Três Barras, onde chegou em 1951, também acompanha a cobertura da Guerra pela mídia, temeroso. Ele tem três irmãos morando com suas respectivas famílias, no Líbano. Segundo Gebrael, seus familiares estão distante do centro do conflito e não correm riscos. ?Pelo telefone eles me contam que ouvem barulho dos mísseis caindo. Eles estão nas montanhas, lugar difícil de ser atingido por bombas?, conta Gebrael com sotaque inconfundível. Há pouco mais de um ano, em entrevista a coluna Nosso Povo Nossa História, Gebrael falava com orgulho sobre a ?pérola do Oriente?, como é conhecido o Líbano. ?Em 10 anos, o país cresceu de forma espantosa. Estava destruído, foi reconstruído, o índice de analfabetismo é zero, o turismo cresceu também, já que o Líbano é considerado um dos países mais bonitos do Oriente Médio?, comemorava ao lembrar o fim da ocupação israelense em 1985.
Hoje, Gebrael lamenta a destruição de praticamente tudo o que foi reconstruído, mas tem uma opinião surpreendente sobre os ataques ? ?Israel tem razão, eles tem que se defender? e emenda ?Os libaneses darão graças se Israel desarmar o Hezbollah?.
SOFRIMENTO SEM FIM
Quando Gebrael chegou a Três Barras, cerca de 40 libaneses viviam por aqui. Hoje, somente Gebrael e Julieta Seleme, libaneses legítimos, moram em Três Barras.
O grande número de libaneses que viviam no Brasil no início do século 20, também era em decorrência de uma Guerra, no caso, motivada pela invasão turca do território libanês em 1914. A guerra de hoje, no entanto, não deve tomar tamanha proporção que chegue a expulsar o povo libanês de suas terras. Até o momento, somente estrangeiros tem deixando o país.
Embora os familiares de Kaissar e Gebrael tentem amenizar a situação, os números impressionam pela crueldade. A violência já deixou 400 mortos no Líbano, a maioria civis, e cerca de 40 mortos em Israel. Entre os mortos no Líbano, há sete brasileiros, dentre eles três crianças.
O primeiro-ministro libanês, Fouad Siniora, afirmou na quarta-feira, 26, que seu país irá exigir uma compensação de Israel pela "bárbara destruição" contra o povo libanês.
Em um discurso na conferência internacional em Roma sobre a crise no Líbano, Siniora pediu um cessar-fogo "amplo e imediato" após 15 dias de confrontos entre Israel e o grupo terrorista libanês Hezbollah, que tem base no sul do Líbano.
As exigências de Sianora incluem a retirada das forças israelenses do Líbano, para permitir que os libaneses retornem para suas casas, e um pedido de indenização a Israel.
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