Na segunda reportagem da série sobre etnias, Nosso Povo Nossa História conta a saga dos alemães em território canoinhense; uma saga que teve seu ponto alto com uma terrível epidemia
Há males que vem para o bem, este ditado, tão batido quanto verdadeiro, seria uma epígrafe adequada aos muitos europeus que morreram de febre amarela nas regiões de Jaraguá do Sul, São Bento do Sul e Joinville no início do século 20.
Foi a famigerada febre amarela que provocou a primeira grande diáspora do Planalto Norte.
Com uma defesa sanitária frágil, a população sentia-se desprotegida, entregue a própria sorte. Para escapar da morte, famílias inteiras empreenderam longas e maçantes viagens de carroça, abrindo clarões em meio à floresta, rumo ao interior do Estado.
Foi assim que a região de Canoinhas teve seu processo de colonização, iniciado em fins do século 19, inclusive por alemães, acelerado.
Entre as muitas famílias que chegaram a Canoinhas, os germânicos prevaleciam. Já viviam por aqui as famílias Muller e Wordell, pioneiros alemães em Canoinhas.
Os que chegaram aqui por ter na região um refúgio contra a doença, acabaram contribuindo de forma decisiva para o desenvolvimento da região. ?É muito significativa a participação cultural dos germânicos no município, influenciando na culinária, na religiosidade, nas atividades culturais e na industrialização?, lembra o historiador Fernando Tokarski.
Apreciadores das atividades agrícolas, que muito bem conheciam da Europa, os germânicos, que em muitos momentos da história são confundidos com austríacos, suecos, suíços e noruegueses, encontraram em Canoinhas, solo fértil e clima favorável.
Concentrados especialmente em Marcílio Dias, para onde em 1913, Bernardo Olsen trouxe da localidade de Lençol, em São Bento do Sul, um levante de germânicos, a fim de colonizar a região. Marcílio Dias na época comportava duas colônias ? Estação Canoinhas, numa apologia clara a estação ferroviária que movimentava a localidade; e Colônia Santa Tereza. Numa auto-homenagem, Bernardo fundou ali a Colônia São Bernardo. Nos próximos anos, Bernardo trouxe outros europeus e seus descendentes que estavam morando em São Bento do Sul, Joinville e Corupá. ?Essa iniciativa é que efetivamente acentuou a presença de germânicos em Canoinhas?, endossa Tokarski.
GÊNESE
Os principais imigrantes alemães, provenientes de Bremen, chegaram a Santa Catarina em 1829, fixando-se nos arredores de Florianópolis. Em 1835 foi criada, por Lei Provincial, a Colônia Itajaí localizada nas terras que circundam o Rio Itajaí-Açu. A Colônia foi uma das mais prósperas e abriu caminho para o processo de colonização de Blumenau, Joinville e Brusque, três importantes cidades do Estado.
Foram os alemães que introduziram os primeiros teares na região, o que transformaria Santa Catarina num dos maiores pólos têxteis das Américas. Deve-se também aos alemães a implantação de um dos mais importantes parques industriais do Brasil, localizado principalmente em Jaraguá do Sul, São Bento do Sul e Joinville.
De Joinville, subindo a Serra Imperial Dona Francisca, os alemães chegaram ao Planalto Norte Catarinense e a cidades como Campo Belo, São Bento do Sul, Rio Negrinho, Canoinhas, Mafra e Porto União. Em São Bento do Sul, a mistura étnica formada por alemães, italianos, poloneses e tchecos deu origem a uma cidade civilizada, com apurado gosto musical e a maior concentração de grupos folclóricos e musicais entre as cidades catarinenses.
As festas típicas germânicas, cuja expressão máxima é a Oktoberfest de Blumenau, a segunda maior festa do chope do mundo depois da de Munique, são muito semelhantes às que ocorrem ainda hoje na Alemanha. Já somam treze, entre grande e médio portes, todas realizadas durante o mês de outubro, formando um verdadeiro "circuito de festas". Mais de um milhão de pessoas freqüentam os eventos que são animados por bandas típicas, grupos folclóricos, gastronomia variada, tudo regado a milhares de litros de chope, num clima de esfuziante alegria que contagia a todos.
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