Faltam profissionais para emitirem pareceres; prefeitos prometem ajudar

CANOINHAS ? A Fundação do Meio Ambiente está com mais de 2 mil planos de corte pendentes de análise. É o que revelou esta semana em entrevista ao CN, João Sampaio de Almeida Junior, que há pouco mais de um mês assumiu a gerência regional do órgão.

O mais dramático é que Sampaio trabalha sem técnicos gabaritados para fazer a análise. Os dois de que dispunha foram transferidos para a nova gerência regional criada em Mafra, que será gerenciada pelo ex-coordenador de Canoinhas, Régines Roeder.

A esperança de Sampaio repousa nos gabinetes dos prefeitos da região. Ele encaminhou ofícios aos prefeitos solicitando que estes lhe cedam engenheiros florestais a fim de destravar o trabalho paralisado desde o ano passado.

Esta semana, Sampaio recebeu garantia do prefeito de Porto União, Renato Stasiak (PMDB) de cessão de um engenheiro florestal para a Fatma pelo prazo de pelo menos três meses. A medida é emergencial, tendo em vista um concurso público que está prestes a abrir visando a contratação de técnicos para a Fatma Canoinhas. Aspectos burocráticos devem protelar a disponibilização dos concursados somente para o final do ano, na previsão de Sampaio.

A expectativa é de que quatro pessoas sejam contratadas ? um engenheiro agrônomo, um engenheiro florestal, um biólogo e um químico.

A seguir, Sampaio fala sobre a situação precária da Fatma, além de comentar sobre seus planos de gestão e o lobby de políticos com o órgão:

 

CN: Qual o seu maior problema hoje?

Sampaio: Nosso maior problema está na área de recursos humanos, porque com a abertura da Fatma em Mafra, dois técnicos que faziam campo foram para lá me deixando somente com dois técnicos ? uma administrativa e uma bióloga, sendo que a bióloga vai entrar em licença-maternidade. Por enquanto a gente está realizando vistorias no interior e cidades vizinhas, mas dependemos de um convênio com prefeitos (visando a cessão de engenheiros florestais) para que se possa assinar os projetos. Existe ainda a expectativa de que a Cidasc ceda um técnico agrônomo para nós ainda este mês.

 

CN: Hoje está tudo parado?

Sampaio: Totalmente parado não está, porque estamos com uma equipe no interior, mas frente a demanda que temos em atraso, vai demorar para colocar o serviço em dia porque precisamos de mais equipes.

 

CN: Como é que o senhor percebe essa briga por competências entre Fatma e Ibama?

Sampaio: Não vejo o porquê da briga. São dois órgãos criados para proteger o meio ambiente. A legislação é federal. Todo mundo é obrigado a respeitar a Lei maior. O Estado tem competência concorrente pra legislar, mas nunca pode abrandar a Lei, tem de ser mais rigoroso. Esta é uma questão transitória, é preciso buscar o mesmo objetivo.

 

CN: É comum que pessoas na sua posição tenham de lidar com lobby político de prefeitos e assessores no sentido de facilitar liberação de projetos. Como o senhor pretende lidar com esse tipo de assédio?

Sampaio: A sociedade de Canoinhas, uma parte dela, me conhece, conhece minha família, mas não vai ter jeitinho. Se a legislação permite, vai receber a licença. Se a legislação não permitir, infelizmente, não vai receber. A Lei é pra ser respeitada por todos. Mas até hoje ninguém me procurou para tentar forçar uma situação.

Este vai ser o estilo de trabalho que eu irei imprimir aqui. O dia em que não puder mais imprimir este estilo, eu volto para o meu cargo de origem.

 

CN: Que estilo de trabalho o senhor está implantando na Fatma?

Sampaio: Percebo que o problema está na organização do trabalho. Isto precisa ser bem planejado. Vou seguir a ordem de protocolo, mas estabelecendo um plano de trabalho coerente. Os protocolos mais antigos serão priorizados.

 

CN: O senhor tem noção de que a Fatma é hoje um dos órgãos estaduais de pior imagem na região?

Sampaio: Tenho noção disso sim. Meu objetivo aqui é mudar este pensamento. Muitos reclamaram e com razão. Sobre atendimento de balcão, busco orientar todos a atender da melhor forma possível porque tenho consciência de que somos funcionários públicos, pagos pelo contribuinte, que merecem o melhor atendimento possível.

 

CN: Efetivamente, em que a Fatma de Mafra desonera a de Canoinhas?

Sampaio: Semana passada foram para Mafra 2,3 mil projetos que estavam pendentes de análise. Havia muitas reclamações de municípios que ficaram subordinados aquela unidade. Isso significa que sem a regional de Mafra, eu teria mais de 4 mil projetos parados aqui.