Há 43 anos a Associação Espírita Lar de Jesus abriga crianças abandonadas ou que vivem em situação de risco, uma história de amor, dificuldades e a certeza da contribuição para um mundo melhor
Em 1964, um grupo de seguidores da doutrina espírita fundava em Canoinhas a Associação Espírita Lar de Jesus. Hoje, a organização não-governamental ganhou uma imagem sólida e simpática, como uma instituição livra da rua e da penúria crianças abandonadas ou que vivem em situação de risco. Nestes 43 anos, a direção do Lar de Jesus não sabe precisar quantas crianças passaram por aqui, mas sabem que foram muitas. Dentre tantas, algumas voltam depois de adultas para mostrar o Lar a seus filhos, conta a assistente social do Lar, Franciele Gogola Bueno que viu um rapaz se emocionar ao mostrar o Lar a suas duas filhas há pouco tempo.
Vivendo de doações particulares e algumas poucas verbas do Estado, o Lar se mantém sempre no aperto, mas o cuidado da diretoria nunca permitiu que as crianças fossem prejudicadas. Na base da filantropia e de muitos apoios, sempre se deu um jeito para a falta de recursos.
O voluntariado é a maior arma da instituição contra as dificuldades. Um grupo de senhoras passa tardes a fio fazendo trabalhos artesanais que são vendidos com renda revertida em prol do Lar.
ROTINA DE FAMÍLIA
?Aqui é um lar normal, as crianças vivem como numa família?, explica a tesoureira do Lar de Jesus, Jacira Ribeiro Dirschnabel. O esforço das nove funcionárias e dos mais de 20 voluntários que trabalham no abrigo para que as crianças se sintam em casa, é visível. Por ser moroso o processo de adoção, muitas crianças passam anos no lar de Jesus. Hoje, das 17 crianças que estão no abrigo, a mais velha é uma menina de 13 anos. Inteligente, ela tenta ensinar outra menina menor a desenhar e escrever na sala de estudos.
A rotina das crianças é a mesma de quem vive com a família. Acordam cedo, tomam café e vão para a Escola (os que estão em idade escolar). À tarde tem aulas de informática e inglês, ministradas por voluntários. Como lazer, podem ver tevê, brincar em um parquinho nos fundos do abrigo ou ler em uma pequena biblioteca. Em quartos separados, dormem meninos e meninas. Um rodízio de horários garante a presença de ao menos um funcionário 24 horas por dia acompanhando as crianças. Nos fins de semana, as crianças fazem passeios fora do Lar e participam de encontros de evangelização. Até pouco tempo, padrinhos poderiam passar o fim de semana com as crianças em casa, mas a Justiça proibiu este programa, por entender que a criança sofriam muito quando estes padrinhos deixavam de visitá-las.
A BARREIRA DA ADOÇÃO
A dificuldade para se adotar as crianças mais velhas está no preconceito dos casais brasileiros. A maioria quer criança de colo. No entanto, de acordo com Jacira, a adoção internacional vem sendo bastante ampliada. Do Lar de Jesus, muitas crianças foram adotadas por casais americanos e europeus, que chegam a preferir crianças maiores. Para uma adoção internacional, o processo é ainda mais delicado. Os pais adotivos têm de viver um mês com a criança no Brasil para então poder levá-la do País. ?O processo de adoção é lento, mas necessário?, ressalta Jacira.
Franciele lembra que mesmo sendo moroso, muitos casais adotam e depois de efetivada a adoção, devolvem as crianças ao abrigo por incompatibilidade, o que é altamente traumatizante para as crianças.
A ruptura dentro do Lar, criado quando uma criança é adotada, também é grande. ?Eles sentem como se um irmão foi embora, é muito triste?, conta Franciele.
Mas entre dias de tristeza, com a partida de um ?irmão?, parecem existir muitos dias de alegria para essas crianças que recebem seus visitantes com abraços carinhosos e perguntas do tipo: ?Onde você trabalha tio??. Infelizmente nossa reportagem não pode contar a história de cada uma dessas crianças por uma questão de preservação de suas imagens, mas seus rostos impregnados de uma boa energia demonstram que apesar da vida difícil que tiveram logo na infância, foram compensadas por um lugar que eles chamam de lar.
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