Ao passar pela rua Coronel Albuquerque você tem a sensação de estar voltando no tempo? Acalme-se, você está no centro velho de Canoinhas
Você conhece um estabelecimento comercial onde se conserta máquinas de escrever? Não!
Pois há pouco tempo, a rua Coronel Albuquerque comportava um desses estabelecimentos. A Silmaq, fechada, obviamente por falta de clientes, atraídos pela evolução dos computadores, conserva sua lembrança unicamente numa fachada que esconde um prédio em decadência.
A antiga oficina de máquinas de escrever é apenas uma das reminiscências do passado que compõe o cenário nostálgico da rua Coronel Albuquerque. A idade avançada da cidade denuncia: estamos no centro velho de Canoinhas.
Aqui estão ícones do desenvolvimento da cidade como o imperioso Hotel Ouro Verde, o antigo Cinema Vera Cruz, a ervateira Delby Machado e as Casas Schreiber, contrastando com profissionais raros como um sapateiro e um tipógrafo. Um verdadeiro patrimônio histórico em personagens e construções.
Irmãos tipógrafos
A tipografia já pode ser considerada uma arte do passado. A evolução tecnológica engoliu a profissão e tornou raros os que a praticam. Duas dessas pessoas estão na rua Coronel Albuquerque. São os irmãos Gerson e César Medeiros.
Eles abriram a Gráfica Medeiros há 26 anos junto com outro irmão, que acabou saindo da sociedade anos depois. A concorrência e aumento do custo do papel tornaram o crescimento inviável. No entanto, a boa carteira de clientes que apreciam o trabalho artesanal dos irmãos, lhes garante o funcionamento da Gráfica. ?Antes trabalhávamos em cinco pessoas com cinco máquinas e não vencíamos o trabalho, hoje trabalhamos em dois com três máquinas?, revela César que lembra o advento das máquinas registradoras no comércio, o que acabou com os blocos de notas fiscais, que eles ainda fazem.
Mas os irmãos estão contentes com o trabalho. Não lucram horrores, mas mantêm seus clientes.
Profissional requisitado
Aqueles que apostam que sapateiro é profissão do passado, precisam conhecer a sapataria de José Roberto Kauva, 48 anos, que garante que a profissão tem demanda. Tanto que o ?escritório?de Kauva está abarrotado de sapatos para consertar. ?Se você compra um sapato barato, quando estraga joga fora, mas se você compra um sapato de R$ 150, R$ 300, você vai querer consertar?, explica o sapateiro que aprendeu o ofício com o irmão.
O maquinário que usa foi comprado da primeira sapataria de Canoinhas ? a dos irmãos Trevisani. Kauva trabalha há 18 anos na Coronel Albuquerque. A maioria de seus clientes é mulheres. ?Sempre tenho serviço, das 7 às 19 horas?, revela. Com a profissão sustenta a família, criou dois filhos que hoje já estão rapazes, mas não demonstram muita disposição para prosseguir com o trabalho do pai. Kauva mesmo não insiste muito. ?Eu queria ser caminhoneiro e acabei sapateiro?, exemplifica.
Secos & Molhados
As Casas Schreiber foi uma das primeiras vendas de secos e molhados de Canoinhas e uma das raras a sobreviver ao longo do tempo. Com mais de 50 anos de história, a casa inaugurada por Harry Schreiber, hoje é comandada por sua esposa Herica Schreiber e filhos. Ainda hoje preserva as características que a tornaram um dos mais famosos comércios da cidade: vender de tudo um pouco. Desde utensílios domésticos até ferramentas.
Lembranças do Ouro Verde
O Hotel Ouro Verde não poderia ter um nome mais conveniente para expressar o que ele simbolizou. Maior hotel dos anos 1950 na cidade, oferecendo todo o conforto que a tecnologia da época poderia proporcionar, o movimento do hotel simbolizava a riqueza econômica do município, caracterizada, essencialmente, pela erva-mate e a madeira.
A proximidade com o ramal da estação ferroviária, que ficava onde hoje está a prefeitura, tornava o fluxo de hóspedes ininterrupto. No hotel comandado por dona Otília e seu filho José, passaram artistas renomados como Cascatinha e Eliana.
Orestes Golanovski, vizinho do prédio, lembra até hoje de um grande evento realizado em torno da ?inauguração? dos serviços de água quente do hotel. Nessa época, Canoinhas era considerada maior que Jaraguá do Sul.
No primeiro piso do prédio funcionava a rodoviária, junto com a lanchonete comandada por José.
Hoje, o hotel é comandado por um senhor que arrendou o prédio, mas continua funcionando como hotel. Seu filho comanda a Lanchonete Brasil, que funciona também no primeiro piso do hotel de dois pavimentos.
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