Vários locais históricos da cidade se deterioraram por falta de preservação, porém um deles ainda pode ser recuperado: a Estação Ferroviária de Marcílio Dias

A história é a memória de um povo e é através das coisas físicas que sobrevivem ao tempo que podemos contemplar ainda mais como foi a sociedade anos antes de nós. Passar por lugares históricos que antes, em suas paredes contaram a vida das pessoas, com certeza é um privilégio. Em Canoinhas infelizmente o povo perde sua história pela falta de memória preservada em cada muro desta cidade. Casarões antigos que contavam muito sobre nossos antepassados foram destruídos, morreram junto com a memória e hoje só estão presentes em arquivos que poucos acessam. A história está escondida porque quando teve chance de ser mostrada, relembrada e revivida, foi apagada por falta de zelo, cuidado, apreço e cultura.

Os patrimônios canoinhenses são desfeitos sem o menor interesse em preservação de cultura. Não sei se a palavra é clara, mas "patrimônio histórico" é todo lugar que carrega importância social, cultural, econômica e científica. Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o tombamento é o instrumento de reconhecimento e proteção do patrimônio cultural mais conhecido, e pode ser feito pela administração federal, estadual e municipal. Quando sua conservação é de interesse público, seja por sua vinculação à história da região ou pelo excepcional valor etnográfico, bibliográfico ou artístico, o tombamento tem por objetivo impedir sua destruição, mantendo-o preservado para as gerações futuras.


A importância da preservação

Mas infelizmente tombar não resolve todos os problemas. O tombamento não tira o direito de propriedade do dono, mas justamente no intuito de preservar o imóvel, garante que não se interfira em suas características originais, o que inibe muitos proprietários. E o problema maior está nisso, para restauração do local mantendo suas características, custa muito caro e nem todos os proprietários ou entidades responsáveis querem arcar com isso.

Se fosse levado em conta o valor o que a preservação destes patrimônios tem eles poderiam sim, ser um atrativo local. Um exemplo disso é na Europa preserva suas edificações e investe nisso e, por isso, atrai muitos turistas que querem ver essas características. É só pensar também na cidade de São Francisco do Sul, lá tem uma cultura de preservação muito forte e o município se beneficia do turismo nesse sentido também. As empresas locadas em espaços antigos fazem questão de manter as características originais do seu imóvel histórico, é um grande diferencial. Seria até uma questão de visão empreendedora.


O abandono da Estação Ferroviária

Também em Marcílio Dias, distrito de muitas construções históricas preservadas pelos seus proprietários, está outro patrimônio de Canoinhas (público) necessitando de revitalização e, igualmente travado pela falta de recursos. A estação ferroviária foi aberta em 1913 e nesses anos todos foi palco de intensa movimentação de cargas e passageiros, além das tropas guerrilheiras durante a Guerra do Contestado. O ramal que trouxe muita prosperidade à região foi desativado nos anos 1960 e a estrutura que ficou há mais de 40 anos clama por atenção.

Em 2015, foi assinado um termo de cessão que passou a responsabilidade pela estação ferroviária de Marcílio Dias ao município de Canoinhas, que propôs na época um plano de ação para estimular o turismo e projetos culturais no local. Em 2016, foi concluído um projeto do Iphan para restauração do local que compreende a estação ferroviária e também o restaurante e armazém ao lado. Que hoje está caindo aos pedaços, se tornou local de lendas pela aparência assombrosa e oferece risco de desabamento.

Fora isso tem a ponte que liga os municípios de Canoinhas e Três e Barras. O mato toma conta da passagem e é impossível trafegar, fora o fato das madeiras da ponte estarem podres, o que oferece riscos, pois algumas pessoas utilizam o local para sessões fotográficas.


Pedido da comunidade

Após matérias publicadas sobre o descaso do local a comunidade se organizou e montou uma página no Facebook, com o nome: "Salve a Estação", o intuito é mexer com as autoridades para que providências sejam tomadas. "Bom a página foi uma ideia minha e de um amigo (Edson Rodrigues), nos dois gostamos bastante de história, temos varias coleções de moedas, objetos antigos enfim... E também nós fazemos busca de antiguidades com detectores de metais e, numa dessas buscas, nós nos deparamos olhando para a estação de Marcílio Dias e, a visão de abandono e descaso nos causou tristeza, por isso, resolvemos tentar mostrar para as pessoas a situação e, pedir ajuda para tentar força uma restauração, pois, por lei é patrimônio e deve ser mantido" disse Luciano Wittlich, um dos criadores da página.

Luciano acredita que a estação é uma parte muito importante da história canoinhense e, pede que como uma boa iniciativa do governo estes locais pudessem ter algum fim comercial ou turístico, enquanto ao mesmo tempo se preserva a história do município. "Canoinhas podia ser um grande ponto turístico, algum tempo atrás conversando com a dona Guerda da cervejaria Canoinhas, ela me disse que aqui eles não dão valor para a história, e que em uma visita que ela fez na Alemanha, percebeu que cervejarias menos antigas que a de Canoinhas, lá já são patrimônios e pontos turísticos. Mas Canoinhas está cada vez mais perdendo potencial em turismo", disse Luciano.

Luciano e Edson estão elaborando também um abaixo assinado para reunir o desejo da comunidade e também pensar em criar um movimento de protesto em prol da restauração. "Com a demanda crescente por espaço urbano, patrimônios históricos entram em cheque, mas o poder público deveria se preocupar mais com a preservação no longo prazo, por isso, estamos elaborando um baixo assinado e, para frente um protesto", destacou.


Dificuldades financeiras

Mas se fosse fácil a coisa já estaria feita, outra barreira que impede essas restaurações é financeira. Segundo a assessoria da prefeitura o poder público pode contribuir até certo ponto, porque precisa de recursos. Canoinhas, por exemplo, demanda de um fundo destinado a esses investimentos. Em 2006 houve um projeto de recuperação da famosa casa de escamas, em Marcílio Dias, que foi restaurada em 2007 pelo Iphan com recursos do governo federal. Em contrapartida foi desenvolvido um projeto para recuperar o antigo cinema, via leis de incentivo, mas dos R$ 700 mil necessários à revitalização, foram conseguidos apenas R$ 200 mil, que permitiram as intervenções mais emergenciais.


Resposta do órgão Público

Em 2016 um amplo estudo permitiu que se fizesse um diagnóstico com informações detalhadas para a restauração da estação e do antigo armazém, possibilitando assim, dar vida novamente às históricas estruturas. A próxima etapa seria a captação de recursos, que foi onde a situação se complicou. Segundo a assessoria da prefeitura, o projeto segue parado no Iphan por falta de recursos e, as edificações continuam sujeitas à ação do tempo.

A prefeitura informou ao CN que a ponte é de responsabilidade federal e que por isso, não pode intervir na manutenção. Disse que também que o termo de concessão da ferrovia se encerrou e que agora a responsabilidade é do DENIT e da Iphan, sobre o projeto de restauração, a prefeitura disse que está aguardando recursos prometidos pelo deputado Antonio Aguiar (PSD) para a construção de um Centro Cultural aliado ao local, mas até agora os recursos não vieram.