
Histórias de um Policial Militar Veterano: A Jornada de Lauro Rocha no 3º BPM

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Lauro Rocha em 2024 (Fotos: Divulgação/PM)
Dando continuidade à série de entrevistas com veteranos do 3º Batalhão de Polícia Militar (3º BPM), o quarto entrevistado é o cabo da reserva remunerada Lauro Rocha. O seu ingresso na Polícia Militar ocorreu em 23/03/1971. Assim como a de tantos outros policiais, sua carreira militar iniciou no Exército Brasileiro.

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Lauro Rocha. Década de 1970 (Fotos: Divulgação/PM)
Relembra que serviu no Campo de Instrução Marechal Hermes, em Três Barras, entre 1969 e 1970. Após a baixa, “eu estava indo para casa e passei em frente ao 3ºBPM. Resolvi conversar com o policial da guarda, se não me falha a memória, o soldado Aristóteles, que me encaminhou para falar com o sargento Pedro Penteado do Prado”, cuja entrevista, em breve, também será publicada.
O sargento o indagou se queria se inscrever para o curso de soldado, de cabo ou de sargento, pois naquele tempo havia expressiva formação de policiais no batalhão. “Eu disse que queria entrar como soldado, ao que o sargento me incentivou para ingressar ao menos como cabo”.

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Cb Lauro Rocha e Sd Luiz Henrique. Campo dos Pontes. Década de 1970 (Fotos: Divulgação/PM)
Devido ao incentivo, inscreveu-se para a seleção ao curso de cabo, logrando êxito. “As provas para o ingresso foram feitas no colégio Cabral com exceção do teste psicotécnico que foi realizado no próprio batalhão pelo capitão Venzon (Sílvio Venzon Filho) que era psicólogo”. Após essas etapas, ingressou na polícia.
O seu curso de formação teve como monitor o sargento Rubens, hoje subtenente da reserva (primeiro entrevistado da série). Após se formar, trabalhou durante três anos em Canoinhas. Nesse período, lembra das diligências realizadas. Quando ocorria a necessidade de realizar prisões ou fiscalizações no interior, “era destacada uma diligência com uma equipe de policiais. Para o transporte, era utilizada uma viatura picape Chevrolet C10 e uma Rural Willys ou mesmo emprestados veículos particulares”.

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"Diligência Policial. 1972. Praça Lauro Muller. Da esquerda para a direita. Sd Júlio Mikus, Sd Gaúcho (mecânico do batalhão), Sd João de Matos, Cb Tibuski, Sgt Yamazaki, Sgt Bastos, Cb Álvaro, Sgt Emerim, ST Ferraz, Ten Neri dos Santos, Sd Aristeu dos Santos, Sd Vitor Corrêa, Sd Antônio Luiz, Sd Amilton de Lima, Cb Lauro Rocha, Sd Altino Alves e Sd Guilherme." (Fotos: Divulgação/PM)
Possui foto da guarnição que participou de uma dessas diligências e também de uma ocorrência de acidente de trânsito que atendeu juntamente com o soldado Luiz Henrique, na localidade de Campo dos Pontes, interior de Canoinhas. “O acidente envolveu um caminhão da empresa Zugmann. Para acionar o seguro era necessário o boletim de ocorrência. A própria empresa nos levou até lá para isso”.
Depois de três anos de efetivo serviço, pediu baixa para ingressar na função de oficial de justiça. Nessa função, atuou na comarca de Canoinhas por aproximadamente dois anos. “Então fui procurado pelo capitão Osvair Manoel Almeida, perguntando se tinha interesse de retornar para a PM, pois havia sido instituído o CVPM que era um aumento salarial que dobrou o soldo dos militares estaduais”.

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Desfile 7 de setembro de 1978. Guarda Bandeira. Praça Lauro Muller. Policiais. Asp Bruno Knihs, Cb Lauro Rocha, Sd Lincowski, Sd Franco, Sd Evaldo, Sd Kondras (Fotos: Divulgação/PM)
O convite foi aceito e Lauro retornou para a instituição. “O capitão Almeida informou que precisaríamos nos deslocar para Florianópolis, mas antes disso foi visitar alguns parentes em Tubarão e Araranguá, e eu o acompanhei. Na sequência, fomos até o Comando-Geral, onde o próprio Comandante-Geral da época nos recebeu”.
No quartel do Comando-Geral, os registros funcionais de Lauro foram consultados, verificando-se haver diversos elogios e nenhuma punição. Desse modo, conseguiu sua reinclusão. “Saí do Comando-Geral com o ofício de apresentação em mãos”. Após ser reintegrado, exerceu diversas funções. Dentre elas, trabalhou na delegacia da comarca, quando esta era no atual prédio da Polícia Científica. No período, existia uma equipe de policiais militares que trabalhava na delegacia, auxiliando na guarda dos presos e das dependências.
Também compôs a equipe que inaugurou o serviço de radiopatrulha do batalhão, tornando-se motorista da viatura Veraneio 91. “Isso ocorreu por volta de 1976. O comandante da RP era o tenente Sadi Anastácio Lanhi”. Desse período, lembra de uma ocorrência que atendeu com o soldado Haroldo Piechontcoski. A viatura da guarnição era um fusca. Após receberem informações de que assaltantes procurados em Porto União estariam em um veículo (também um fusca) nas proximidades do colégio Santa Cruz, foram até o local para averiguação.

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Lauro Rocha junto à viatura Veraneio. Pátio do 3BPM. Dia 09-07-1978 (Fotos: Divulgação/PM)

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Lauro Rocha na condução de viatura policial. Desfile de 7 de setembro. Canoinhas. Década de 1970 (Fotos: Divulgação/PM)
“Nós chegamos perto do carro deles, então iniciaram a fuga. Estavam em três ou quatro. Foram para a rua Vidal Ramos, sentido Três Barras. Perto da ponte no rio Canoinhas, começaram a atirar em nós. Eu estava dirigindo a viatura e revidando. Os tiros acertavam o carro deles, mas eles não paravam e continuavam a atirar em nós. Gastei todas as munições do revólver. Como ficamos sem munição, parei a viatura no São Cristóvão. O carro dos assaltantes foi encontrado, logo após, na Divisa, interior de São Mateus do Sul/PR. Tempos depois, esses assaltantes morreram em confronto com a polícia de Porto União”.

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Lauro Rocha em frente à igreja matriz de Canoinhas. Viatura VW Fusca (Fotos: Divulgação/PM)
Dentre as várias histórias que ilustram a dificuldade de comunicação da época, lembra do caso em que uma guarnição deveria atender a um baile na escolinha de Paciência dos Neves, em frente à igreja católica. A guarnição não retornava, o que gerou inquietação no comandante da companhia, à época, o Capitão Beneval João de Souza. “O capitão me perguntou se eu conhecia Paciência dos Neves, eu respondia que sim. Então ele disse para eu ir até lá, a fim de verificar o que tinha ocorrido com a outra guarnição”.
Lauro relembra de detalhes de como foi este fato. “Fui com o soldado Hass. Fomos de Kombi. Quando chegamos lá, notamos que a guarnição não havia ido. Disse para o Hass que a gente iria ter que trabalhar. Pedi para o gaiteiro parar o baile e avisar para que os homens ficassem de um lado do salão e as mulheres de outro. Revistamos todos os homens e apreendemos várias facas. Depois disso, dissemos que o baile poderia continuar. O presidente do baile perguntou o que faríamos com as facas. Entregamos as facas pra ele e dissemos para que devolvesse aos donos ao final do baile, mas que não trouxessem mais facas em baile, ainda mais em uma escola. Quando estávamos voltando, encontramos a guarnição na Fartura. Eles se confundiram e foram para a Estação Paciência. Tiveram que conversar com o capitão…”, relembra com um sorriso.

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Lauro Rocha e seu irmão Nilto Bueno da Rocha. Policiamento em São Bento do Sul. Aniversário do município. Dia 03-10-1980 (Fotos: Divulgação/PM)
Outro fato marcante, ocorrido por volta de 1982, tem relação com a igreja matriz de Canoinhas. “Após a construção de um prédio vizinho, houve uma rachadura na torre da igreja e disseram que teria de ser demolida. Isso gerou manifestação popular. Um grupo queria demolir e outro manter a igreja, gerando a necessidade de policiamento constante por mais ou menos um ano. No final das contas, a situação se resolveu sem a necessidade de demolição”.
O vigário da época era o frei Bernardo Oleskovicz. “Foi este mesmo frei quem primeiro benzeu as viaturas, quando foi inaugurada a radiopatrulha”, função na qual trabalhou por aproximadamente cinco anos. Depois disso, a convite do capitão Beneval, passou a atuar na seção de armamentos, comandada pelo tenente Knop. Aí, permaneceu por aproximadamente oito anos, quando ingressou na reserva remunerada.
No desempenho de suas funções acabou por fazer parte de diversos fatos icônicos para a história de Canoinhas. Outro foi a demolição do viaduto ferroviário que existia na rua Três de Maio. “Antigamente, existia um ramal da estrada de ferro que ligava Marcílio Dias até a estação de Canoinhas. A estação ficava onde hoje é a prefeitura. Perto do colégio Santa Cruz havia um viaduto. Com a desativação da estrada de ferro, o viaduto foi dinamitado. Uma equipe de policiais teve que fazer o isolamento do local para que o engenheiro preparasse as dinamites e realizasse a explosão. Eu era um dos policiais”.

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Viaduto Ferroviário Demolido (Fotos: Acervo Fernando Tokarski)
Após a desativação da estação de Canoinhas, o local passou a ser abrigo de moradores de rua até que fosse construído o prédio da atual prefeitura. Dentro da antiga estação, os moradores estabeleciam as divisões de seus “apartamentos” com chapas de papelão. “Cada passo dava ocorrência e a gente tinha que atender. O deslocamento era a pé. Uma vez um morador do local, ex-policial, estava quebrando tudo lá e ligaram para o Copom. O Copom me mandou e eu fui a pé. Como conhecia o ex-policial, apelidado de ‘Fornaião’, consegui resolver na conversa e ele me acompanhou até a delegacia numa boa. Na delegacia, dormiu para sarar da embriaguez e depois voltou calmo para a estação”.
A história de Lauro com a PM não é isolada, pois três de seus irmãos também são policiais militares: o subtenente Nilto Bueno da Rocha, o sargento Ovídio Bueno da Rocha e o cabo André Bueno da Rocha, cuja entrevista será divulgada em breve. Lauro, ou Laurinho, como é amistosamente chamado pelos colegas, relembra da carreira com orgulho e sua memória mantém o frescor das experiências vividas.
Por capitão Diego Gudas
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Viaduto Ferroviário Demolido (Acervo Fernando Tokarski)
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Lauro Rocha na condução de viatura policial. Desfile de 7 de setembro. Canoinhas. Década de 1970 (Divulgação/PM)
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Lauro Rocha em frente à igreja matriz de Canoinhas. Viatura VW Fusca (Divulgação/PM)
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"Diligência Policial. 1972. Praça Lauro Muller. Da esquerda para a direita. Sd Júlio Mikus, Sd Gaúcho (mecânico do batalhão), Sd João de Matos, Cb Tibuski, Sgt Yamazaki, Sgt Bastos, Cb Álvaro, Sgt Emerim, ST Ferraz, Ten Neri dos Santos, Sd Aristeu dos Santos, Sd Vitor Corrêa, Sd Antônio Luiz, Sd Amilton de Lima, Cb Lauro Rocha, Sd Altino Alves e Sd Guilherme." (Divulgação/PM)
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Desfile 7 de setembro de 1978. Guarda Bandeira. Praça Lauro Muller. Policiais. Asp Bruno Knihs, Cb Lauro Rocha, Sd Lincowski, Sd Franco, Sd Evaldo, Sd Kondras (Divulgação/PM)
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Cb Lauro Rocha e Sd Luiz Henrique. Campo dos Pontes. Década de 1970 (Divulgação/PM)
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Lauro Rocha. Década de 1970 (Divulgação/PM)
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Lauro Rocha junto à viatura Veraneio. Pátio do 3BPM. Dia 09-07-1978 (Divulgação/PM)
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Lauro Rocha e seu irmão Nilto Bueno da Rocha. Policiamento em São Bento do Sul. Aniversário do município. Dia 03-10-1980 (Divulgação/PM)
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