No final do século 18, o matemático e economista britânico Thomas Robert Malthus (1776-1834), considerado o “pai da demografia”, afirmou que o crescimento populacional ocorreria em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos aumentaria em progressão aritmética. Isso Com base nessa projeção, inevitavelmente, a escassez de alimentos e a fome se abateriam sobre a população humana. Mas, será que essa previsão se concretizou?

Atualmente, observa-se a tendência de declínio nas taxas de fecundidade em diversos países, incluindo o Brasil. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2024) indicam que, no ano de 2018, a taxa de fecundidade total brasileira foi de 1,77 filhos por mulher, abaixo do nível de reposição populacional de 2,1 filhos por mulher. Isso significa que a população brasileira está envelhecendo e, em breve, poderá começar a diminuir.

Se o problema ambiental fosse apenas o número de pessoas, poderíamos pensar que a solução está a caminho, certo? Afinal, com menos nascimentos e decréscimo da população humana mundial, a pressão e exploração sobre os recursos naturais diminuiria. No entanto, a realidade é mais complexa. O consumo per capita aumentou significativamente nas últimas décadas, e a distribuição desigual de recursos continua sendo uma gritante realidade, e, portanto, um enorme desafio. Além disso, o envelhecimento populacional traz novas questões, como a sustentabilidade dos sistemas de Previdência Social e de saúde pública.

Essas mudanças afetam diretamente a vida de todos. Com uma população em processo de envelhecimento, as políticas públicas precisarão ser reformuladas para oferecer cuidados de saúde e aposentadorias para um número crescente de idosos. Isso também implica em maior pressão sobre a força de trabalho ativa, que será proporcionalmente menor e terá que sustentar economicamente uma parcela maior da população. Para as pessoas, isso pode significar mudanças em tributos, idade para aposentadoria e acesso a serviços básicos.

O impacto do consumo é algo que também não deve ser ignorado. Um estudo de Diógenes (2022) analisou os efeitos de idade, período e coorte no consumo de energia elétrica dos domicílios brasileiros, revelando que, apesar de as gerações mais jovens consumirem menos energia por habitante, o aumento do número de domicílios e a urbanização crescente de produtos consumidores de energia podem manter ou até elevar o consumo total. Isso mostra a necessidade de repensar o quanto consumimos e como consumimos.

E o que podemos aprender com isso? A relevância desse tema não está apenas em entender as dinâmicas populacionais, mas, também, em refletir sobre os desafios que se apresentam, tanto para os poderes públicos quanto para a própria inciativa privada. O declínio populacional pode ser uma chance de reavaliarmos como estão sendo distribuídos os recursos e quais as possibilidades e necessidades para que sejam construídas relações e práticas mais equitativas e sustentáveis. Ao mesmo tempo, nos alerta para a urgência de agir, mediante a compreensão das mudanças demográficas em curso, o ajuste dos sistemas de previdência, o investimento em inovação tecnológica e a promoção de hábitos de consumo mais conscientes e saudáveis, dentre outros.

Portanto, embora as previsões malthusianas de uma catástrofe populacional não tenham se concretizado, quando se pensa em sustentabilidade, os desafios relacionados às relações entre população humana e questões ambientais permanecem. Entender essas questões não são apenas exercícios intelectuais acadêmicos, mas, condição para compreender as dinâmicas das mudanças demográficas. Quiçá, os governos e a própria sociedade possam se preparar e agir de forma mais consciente, segura, coletiva e sustentável para as novas realidades e novos desafios demográficos que se apresentam.

 

DIÓGENES, V. H. D. Efeitos de idade, período e coorte no consumo de energia elétrica dos domicílios brasileiros no século XXI: uma análise sob a perspectiva da relação população-consumo-ambiente. 2022. Tese (Doutorado em Demografia) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2022. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/50989. Acesso em: 5 dez. 2024.

 

IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Projeção da População 2024: número de habitantes do país deve parar de crescer em 2047. 2018. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/21837-projecao-da-populacao-2018-numero-de-habitantes-do-pais-deve-parar-de-crescer-em-2047. Acesso em: 5 dez. 2024.

 

 

Autores:

 

Manuela Pozza Ellwanger. Mestranda em Desenvolvimento Regional do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UNC).

 

Jairo Marchesan. Docente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UNC).

 

Liz Andrea Babireski Braz de Oliveira. Mestranda em Desenvolvimento Regional do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UNC).